Pedro Costa — (?)

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GVM MAIO22

OVO COR-DE-ROSA, PICLES, GARRAFA DE CACHAÇA COM COBRA, TREMOÇO, TORRESMO A MILANESA, VIDRO DE SARDINHA NO PALITO BANHADO NO AZEITE, FUMAÇA DO FOGÃO À LENHA, NEBLINA DENTRO E FORA, JIPE SEM CAPOTA ESTACIONADO NA FRENTE E UM MAPA DO SUL DE MINAS NA MESA DO BAR. SEM MAIS CAFÉ NO BULE, RUMO AO CAMINHO CERTO, SEM PERIGO FATAL, SEGUIMOS VIAGEM.

SOL AINDA BAIXO DEIXA O SERENO DA MANHÃ EMBAÇAR O VIDRO DO VELHO JIPE, ABARROTADO DE MOCHILAS E TRALHAS DA BARRACA. PRÓXIMA PARADA ENTRADA PARA SÃO TOMÉ DAS LETRAS. TRÊS JOVENS DA DÉCADA DE SETENTA SEGUEM LEVANTANDO POEIRA DA ESTRADA E NO TOCA FITAS PINK FLOYD, LED ZEPPELIN E CLUBE DA ESQUINA SE INTERCALAM NA FITA K7.

JÁ FIM DE TARDE UM BOM GRAMADO PARA ACAMPAR. FOGUEIRA PEQUENA, CARNE DURA PARA ASSAR E RODA DE VIOLA FALTANDO UMA CORDA, CACHAÇA DA REGIÃO E DE PAPO PRO AR. AS ESTRELAS SEM PRESSA PARECIAM ASSISTIR A TERRA LENTAMENTE GIRAR NA ROTAÇÃO DE TRÊS AMIGOS QUE CANTAVAM JUNTOS, CANÇÕES QUE AS RÁDIOS JAMAIS PODERIAM TOCAR.

CREPÚSCULO E SOL NASCENTE PARECIAM OS MESMOS, SEMPRE A NOS ENGANAR. O DESTINO ERA IR E NUNCA CHEGAR. ASSIM PARTÍAMOS QUANDO A FOGUEIRA SE APAGAVA. FELIZES CONSULTANDO O MAPA QUE NENHUM DE NÓS OBEDECIA A NÃO SER A HORA DO DOMINGO ACABAR.

SÓ DE LETRA MAIÚSCULA QUE FAÇO É PORQUE O TÍTULO AINDA NÃO SURGIU PARA ESSA CRÔNICA. CHAMÁ-LA DE SAUDADE SERIA MATAR ESSAS LEMBRANÇAS VIVAS DAS VIAGENS QUE ATÉ HOJE CONTINUO A FAZÊ-LAS, UMA POR UMA, AGORA NA VARANDA, DENTRO DE MIM DEIXO ESSE FILME RODAR. pedrocosta.pira@uol.com.br

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