25 anos de vida e de Vila

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Vila Madalena, para mim, é uma grande vizinhança. Não é apenas um bairro, é uma comunidade muito grande, um lugar onde você passa e cumprimenta todo mundo pela rua, todo mundo te conhece. Por isso não dá pra sair daqui. E a Vila sempre foi assim.
Lembro bem de quando eu era pequena: minha avó me levava para brincar lá no Jardim das Bandeiras, perto da Heitor Penteado, onde tem uma praça gigantesca. Todo mundo ia tomar sorvete, brincar, andar de skate. E até hoje, 25 anos depois, as avós continuam fazendo isso! Essa praça me lembra uma história muito bacana. Uma vez, no Carnaval, meu namorado e eu estávamos andando na rua Inácio Pereira da Rocha e encontramos um cachorro labrador lindo, morrendo de calor. A gente achou estranho, dava para ver que ele estava perdido.
Pedimos água para o pessoal do Grill da Vila e então foi todo mundo ver o que estava acontecendo, inclusive um rapaz dizendo que o cachorro o tinha seguido desde a rua Harmonia. Uma das pessoas emprestou uma guia para nós e fomos atrás do dono do cachorro. Era cedinho, por volta das 9h. Nós rodamos a Vila Madalena inteira.
Foi uma investigação. Perguntamos para todo mundo se conheciam o dono do bichinho, se sabiam de alguém que o tinha perdido. Cada pessoa foi indicando outra para falarmos. Então falamos com um chileno de uma lavanderia que tem na esquina da rua Harmonia com a Wizard. Ele disse para irmos justamente na tal pracinha que eu ia quando criança. Muitas pessoas que têm cachorro costumam levar seus animais no fim da tarde. Era mais ou menos 18h. Muita gente queria ajudar. E foi lá que um rapaz falou que quando estava passando na rua Caiowaa, ficou sabendo de uma mulher tinha perdido um labrador. Finalmente, depois de andar a Vila Madalena inteira durante o dia todo, encontramos as donas.
É justamente disso que eu mais gosto nessa região: essa união, esse senso de comunidade. É o que deixa a Vila muito especial.

Uma canja inesquecível

Há 15 anos, mais ou menos, meus pais compraram um apartamento na rua Wisard. Naquela época, essa rua não tinha uma vida noturna tão forte como tem hoje. Não tinha nenhum bar ainda, havia apenas um açougue caindo aos pedaços, um botequinho aqui e outro ali, e o Empanadas começando. Hoje é tudo muito diferente, você encontra de tudo: tem Blockbuster, tem Amor aos Pedaços, vários bares legais. Eu morava, inclusive, no quarteirão entre a rua Harmonia e a rua Girassol, que é a região com mais casas noturnas na Wisard.
Isso pode até incomodar alguns moradores, mas trouxe uma surpresa maravilhosa para a minha família. Morávamos em frente ao bar Piratininga. Uma vez, meu pai estava trabalhando lá na varanda, concentrado, quando ouviu uma voz muito conhecida, que cresci escutando. Era difícil de acreditar que aquela voz estava ali, ao vivo. Afinal, no Piratininga só tem música ao vivo.
Saímos na janela e descobrimos que não tinha nada de errado com o bar. Era mesmo o próprio Chico Buarque, que conhecia o pessoal do Piratininga, passou para dar um “oi” e acabou nos surpreendendo com uma canjinha ali, em frente da nossa casa. Foi uma surpresa maravilhosa, porque eu cresci ouvindo MPB, especialmente o Chico. Inesquecível.

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