Quem nunca teve uma decepção amorosa que não vire a primeira página dos livros da série “Ria da minha vida”, do escritor, engenheiro e empresário, Evandro Daolio, 34 anos. “Ria agora! Para não chorar depois” (144 páginas, R$ 19,90) é seu quarto livro, recém-lançado pela Editora Arx, que, com muito humor, bom-senso e inteligência, explica como errar menos no amor. Feito para pessoas de todas as idades e ambos os sexos, os textos de Evandro prendem a atenção e arrancam boas risadas dos leitores com suas teorias sobre relacionamento. Escritos de maneira despretensiosa, os três títulos, “Ria da minha vida, antes que eu ria da sua”, Ria da minha vida 2: antes que eu volte a rir da sua” e “Ria da minha vida 3: a busca de um grande amor”, já venderam 60 mil exemplares. Descubra nesta entrevista como a vida, do ponto de vista masculino, pode ser simples e divertida e ainda ser um sucesso editorial.
“Ria da minha vida, antes que eu ria da sua” é um livro autobiográfico?
Não necessariamente. Este primeiro livro surgiu muito por acaso. Tinha tomado uma “cacetada” de uma namorada, a Débora. Eu mesmo costumava tirar sarro dessa situação, escrevia para desabafar. Quando vi tinha 600 páginas escritas à mão. Então, comecei a digitar em um Pentium 90, caindo aos pedaços, mas era muito difícil. As primeiras impressões não funcionavam. Quase morri para imprimir 300 páginas e conseguir fazer o primeiro bloco de páginas, um ano depois. Dava para meus amigos lerem e eles diziam para eu publicar porque era muito engraçado. As pessoas gostavam muito e eu passei a acreditar.
Daí para a publicação como foi?
Visitei 52 editoras e levei 52 portas na cara. Amigos e parentes me incentivavam a tentar mais uma vez: “vai, você consegue”. Não é verdade, você não consegue. A porta sempre está fechada. Decidi fazer o livro sozinho! Peguei o dinheiro que tinha juntado durante anos de trabalho escravo como estagiário para editar 500 unidades. Pensei: minha avó compra três, minha mãe compra sete, meu pai, nenhum e meus amigos, nenhum! (risos) Eles acham que têm que ganhar o livro. Fiz uma conta que sobraria 472 livros em casa. E foi realmente o que sobrou! Conforme eu ia vendendo, ia contando e anotando: 499, 498… Ainda hoje recebo e-mails das editoras, desinformadas que não sabem que o livro já foi publicado, agradecendo meu interesse em enviar o material. No Brasil, recorde de venda é 10 mil exemplares. Vendi 6 vezes mais do que o normal no País. Como cada livro é lido por mais ou menos 15 leitores. Dá meio milhão de leitores.
Imaginava que seria este sucesso?
A idéia era fazer um livro para ter em casa, dar de presente no casamento, brincar com os outros, mostrar e falar para o filho não passar o que eu passei… Publiquei os 500 livros, ninguém quis, mas caiu na mão da mídia. Recebi um telefonema da Globo, chamando para uma entrevista para o Programa do Jô!. Fui para a entrevista. Quando ele me perguntou onde tinha meus livros, eu respondi que em “todas as livrarias”. E não tinha… (risos) Você acha que eu ia falar que era embaixo da minha cama, depois de ter sido humilhado por sogros que proibiram meu namoro? Depois do Jô, todo mundo começou a pedir os livros. Fui a vários programas de tevê, e as pessoas continuavam a pedir, pedir, pedir… E a primeira editora que eu tinha ido, a primeira a me bater a porta na cara, a Arx, do Grupo Siciliano, percebeu que tinha algo errado ou de muito bom e me contratou como escritor.
Não teve nenhum incentivador, além da família e amigos?
Sim, foi o proprietário do Fran´s Café, da Benedito Calixto, quem acreditou no meu primeiro livro. Quando cheguei com ele embaixo do braço e fui ao balcão para perguntar quanto custaria fazer um lançamen- to lá, ele pegou-o das minhas mãos e leu na minha frente, umas 30 páginas, sem parar. Fechou o livro, olhou para mim e disse: “Vai fazer aqui e de graça!”. A partir daí, foi um pulo para o Jô e o sucesso do livro. Foi o Fran´s Café que mandou o livro para as emissoras. Como aquele local faz parte da minha história e eles deram o primeiro grande empurrão, faço questão de fazer o primeiro evento de cada livro sempre lá.
Conte um pouco do recém-lançado “Ria agora para não chorar depois”.
Este livro é exatamente o mesmo que o primeiro, só que mais infanto-juvenil. Quase que uma explicação do primeiro título. Esse livro eu fiz para alcançar os colégios e os alunos perceberem que existe um autor que pode ser novo, mas que já viveu muita coisa. Por isso, faço as palestras nos colégios. A intenção é fazer essa molecada gostar de ler. O primeiro livro que gostei na minha vida foi “Operação Cavalo de Tróia”, que li aos 22 anos. A partir daí virei leitor. Até então, eu só lia o que era para o vestibular. A maioria das pessoas é assim e não tem o hábito de entrar em uma livraria e ficar fuçando até achar o que gosta. Com esse livro eu falo de ruas como Cerro Corá, Heitor Penteado… de coisas daqui, do universo dele. Quando falo que o carro demorou para subir a travessa da avenida Sumaré, o leitor conhece a inclinação da rua e sabe do que estou falando. Somos bombardeados com literatura com fama comprada em revistas e escritores estrangeiros, enquanto temos uma riqueza esquecida de autores brasileiros. Quando alguém lê histórias verídicas de locais que conhece e se identifica, com base em sua realidade, sua vida e país, o livro fica gostoso de ser lido. Isso atrai cada vez mais fãs. O livro novo, bem como os outros já fazem, veio com essa intenção.
Tem alguma palestra programada para acontecer na região?
Sim, mas são palestras fechadas por enquanto. Elas são motivacionais, divertem e ensinam com base em minha história de vida. Estou fazendo palestras gratuitas para colégios que adotem o livro novo também. Tem um item no meu site que fala como elas são, com vídeos e folders.
Como seus livros são classificados e quem se identifica mais, homem ou mulher?
A maior dúvida da editora é como classificar o livro. Ele tem humor, fundamento, auto-ajuda. Às vezes entro em uma livraria e ele está ao lado de Freud! Fico feliz, mas não vendo. Aí colocam na prateleira de humor. Tem gente que prefere auto-ajuda, então é colocada nesta área. Depende. Para mim, ele é um livro de “desenvolvimento interpessoal” ou “desenvolvimento entre pessoal”. Entre pessoas e a própria pessoa. Eu falo do sofrimento de um homem por uma mulher e como elas acham isso muito raro, se identificam muito mais.
O foco é sempre o relacionamento amoroso?
Sim, embora também abordo um pouco da vida profissional e familiar. Têm muitos fatos de namoro que eu conto, como a vez que coloquei uma faixa de declaração para a namorada no meio da rua e o sogro arrancou. Namoro à distância, que é terrível. O pai mandou a filha para a Europa só para fugir do namoro e eu fui atrás. Tem todo esse romance que continua no segundo livro: “Ria da minha vida, antes que eu volte a rir da sua”. O terceiro é mais brando, mais maduro porque eu também vou mudando a visão de algumas coisas conforme o tempo passa.
Os livros trazem uma visão masculina sobre os relacionamentos…
As mulheres acham muito legal acompanhar como a mente masculina vai mudando. Não é um livro de dicas, mas, no final de cada livro, eu falo que nós homens gostamos de cabelo comprido e natural, pouca maquiagem, calça branca, mulher divertida, sensualidade não vulgar, que tem que saber se vestir: uma vez fui ao cinema com uma menina e ela foi com uma blusa super transparente. Eu queria ver, mas não ali. Morri de vergonha e até comprei um balde de pipoca para ela ficar segurando. (risos) Odiamos o sapatinho da Maga Patalógica, bigode, gíria, mulher que é mais alta que a gente, perfume masculino que tem o efeito contrário do desejado: vou lembrar do meu amigo Walter, que também é personagem do livro… (risos) Brinco com coisas relacionadas a comportamento, para dar uma quebrada e deixar leve.
Sua característica é o humor. É sempre assim?
A série de livros é “Ria da minha vida”, mas já chorei… Primeiro trago o leitor para a minha vida, depois ele já está meu amigo. Hoje mesmo recebi um e-mail de uma pessoa dizendo já saber o que vou responder a cada entrevista. Os leitores me conhecem, sabem exatamente da minha conduta, minha índole… Isso se mede pelos e-mails que recebo. Há uma identificação.
Como é este feedback?
Eu respondo todos os e-mails que recebo. Está vendo aquele bloco ali? [Aponta a mesa do computador para a repórter]. São e-mails. Deve ter uns 30 que eu recebi de ontem para hoje. Os homens começam dizendo: “eu não sou gay, mas gostei…”. O homem tem muita dificuldade para escrever para outro homem. 98% dos e-mails masculinos se justificam que não são gays. A mulher não, ela escreve, se abre… Aprendi muito a lidar com isso. Parte do livro 2 tem essa minha vivência dos e-mails que recebo de meninas contando as histórias com seus “Déboros”. Os leitores se identificam, porque não são casos raros, acontecem com todo mundo.
São histórias cotidianas, porém repletas de fórmulas. Como é esse processo de criação?
As pessoas entendem rápido o livro por causa das teorias. Vou juntando idéias, anoto os comentários que acho inteligente ou engraçado onde quer que eu esteja: bar, trânsito… Eu guardo todos esses papéis, depois monto um painel em uma ordem, mais ou menos cronológica, com uma “raiz” que irá direcionar a história. A raiz do livro 1 é a Débora. No livro 2 é a entrevista ao Jô Soares que mudou a minha vida. No livro 3 é a busca por um grande amor. Eu tenho uma raiz que sempre volto, mas eu brinco com as dicas e teorias. Os livros demoram um tempo médio de três anos para sair porque são histórias verdadeiras. Tudo é verdade: os lugares que estive, os carros que eu falei que tive se alguém for procurar os documentos verá que é verdade.
Demanda um certo tempo para escreve-las, não?
O primeiro livro foi em 2000. O segundo em 2002. O outro já veio em 2003, muito rápido. E agora o quarto livro, que não é seqüência do último. Ele tem um pouquinho das melhores histórias dos livros 1, 2 e 3. Tenho que esperar acontecer algumas coisas importantes. (risos) Ontem mesmo surgiu a teoria do leão e da gazela. Baseada nessas mulheres que saem querendo casar ou arrumar namorado. Nós homens temos faro apurado para detectar isso. Os olhos brilham diferente, o feromônio, alguma coisa especial que diz “essa mulher quer casar”. A gente foge igual o Diabo dessa mulher. Para ela, qualquer um é especial, porque ela “precisa” namorar! É como se o leão estivesse embaixo da árvore e a gazela chegasse e pedisse para ele morde-la no pescoço. O leão olha e pergunta: “você não vai correr?”. Ela responde que não e leão pensa: “Tem pegadinha, aí!”. Se ela correr fingindo que está fugindo, olhando para trás, o leão também vai achar esquisito e travar com as quatro patas. (risos)
Não é um excesso de desconfiança e pretensão masculina… (risos)
50% é bobão. (risos) Mas é que isso não conquista a pessoa. Tanto o homem como a mulher gosta de conquistar. Ninguém gosta de uma pessoa que está no desespero. O charme se desfaz. O charme é muito mais importante do que a beleza. Esse assunto dá mais de três páginas do livro…
Com tudo isso, sua vida tem que ser bastante agitada para render um livro.
É, tem que sair muito. Agora estou mais tranqüilo. Vai passando o tempo, a gente vai mudando. Tem um capítulo no livro 3, o “Resgate do Soldado Evandro”, que eu enumero todas as discotecas, baladas e locais que eu fui em busca da minha grande mulher. Eu brinco com isso também. Imagine eu entrando em todos esses lugares, pagando e saindo sem nada! Tem um amigo que achava que iria casar com uma mulher durante uma viagem de navio. E ele foi fazer o cruzeiro e conheceu uma pessoa. Ele já estava à procura. Quem procura acha, né? Mas, não deu certo. Ele estava querendo programar uma coisa. E não tem um lugar certo para encontrar o amor da sua vida; pode ser na feira, pegando o elevador… É claro que tem os lugares prováveis. Se você não gosta de samba, dificilmente vai encontrar alguém que “bata” com você em um pagode. Eu falo de tudo isso no livro, não só de mim, mas da vida.
Tem alguma história engraçada ou inusitada que se passou na Vila Madalena?
Tem sim. Certa vez marquei um encontro com meus amigos e uma moça e suas amigas no bar A Marcenaria, na rua Fradique Coutinho. A menina, entre outras coisas, nos deixou lá plantados feitos bobos esperando até duas da manhã. Após cem tentativas minhas de ligar para saber o que aconteceu, pois ela pouco se importou com a chuva de reclamação de meus amigos em cima, ela atendeu displicente e disse: “Ah eu e minhas amigas estamos no bar Mercearia”, riu (esse bar fica no Itaim) e continuou: “Acho que confundi o nome Mercearia com Marcena- ria! Mas tudo bem, né?”. Tem também o capítulo Feliz Aniversário para Ninguém, mostrando pessoas que não vão à própria festa de aniversário e escontros engraçadíssimos às escuras, que também aconteceram todos na Vila Madalena.
Você morou nas ruas Tavares Bastos e Scipião, na Lapa. Atualmente mora perto do metrô Vila Madalena. Como é sua relação com estes bairros, especialmente a Vila?
Relação de 100%. Eu adoro esses bairros e a Vila agora onde estou. Não saio daqui por nada nesse mundo. Na verdade, até meus 25 anos de idade minha família se mudou 16 vezes. E sempre na região da Vila Mada- lena, Lapa e Pinheiros. Agora existem centenas de novos empreendimen- tos muito bons sendo construídos e estes bairros estão se transformando. 90% das histórias dos três livros acontecem no cenário da Vila Madalena. Tanto que tem uma história no livro 3 que brinca com isso, quando tive que levar uma moça para casa “para lá da Penha”, onde ela me disse que morava. Conto meu desespero com a viagem até lá…
Acredita que estas suas observações terão o mesmo valor para as próximas gerações?
Sim. A geração nova está passando por coisas que já passei. Balada, faculdade, ciúmes da namorada… O livro 2 é para quem já está trabalhando, batalhando outras coisas. O livro 3 é a procura por aquele amor para casar. O próximo pode ser “Ria do meu casamento, antes que eu ria do seu”, para quem está casado. Os leitores vão crescendo e mudando os interesses.
É acompanhar essa mudança, especialmente na sua vida, que torna o livro interessante?
O que os leitores gostam é de saber como levar a vida com humor e bom senso para se espelharem. Eles querem saber se estou casado ou não para saber o final de tudo o que passei. Ter certeza que tem um final feliz. Afinal, eles acompanham desde o começo. Essa é a maior fórmula para uma novela dar certo. Janete Clair fazia isso: o personagem se arrebentava inteiro durante a novela e no final tudo acabava bem.
Você e a Débora se casaram?
Aí que está o grande mistério. O livro “Ria da minha vida 3” é a busca por um grande amor. Se eu te falar, eu conto o final. Uma vez comentei em um programa sobre o meu estado de relacionamento, sem dizer se estava casado ou não, e recebi uma enxurrada de e-mails. Se estou em um bar acompanhado as pessoas perguntam se é a Débora! Não dá para ficar à vontade e revelar se é ou não minha namorada porque as pessoas vão querer analisar se ela é como eu descrevo a mulher ideal. E a vida não é assim. A pessoa especial nem sempre tem as descrições físicas que tem no livro. No livro, as mulheres são musas.
O segredo é levar a vida na esportiva?
Não rir como um bobo, mas quando ri de uma piada, você tem domínio da piada. Quando se tem domínio da situação, você já sorriu. Uma pessoa que já foi chifrada no momento que ouve uma história parecida, não fica séria, ela ri. Essa é a moral do livro. Tudo o que eu já passei, o leitor provavelmente já passou ou vai passar.