Quem caminha com seus cães sai ganhando: conhece melhor a vizinhança, faz exercício físico, toma sol, seus animais tornam-se mais sociáveis e felizes. Faz amigos, mas por vezes desperta antipatia, verdade seja dita.
A antipatia é despertada, em geral, porque os donos de animais não fazem aquilo que manda a lei municipal e, acima de tudo, o bom senso e a boa educação: recolher as fezes dos seus bichos e levá-los a passear seguros pela guia atada à coleira. É uma questão de respeito aos outros. Ninguém pode ser obrigado a gostar de animais. Mas tem obrigação de respeitá-los, assim como o direito de alguém amá-los. Certo dia encontrei uma moça passeando com um belo cocker solto pela rua Girassol. Quase que ele e meu cão se engalfinharam. Mostrei a ela o perigo que representava andar com seu cachorro assim e que, além disso, poderia ser multada. Ela respondeu: “Multada por quem? Cadê o guarda?”.
Guardadas as devidas proporções, cabe aqui uma comparação. Sem dúvida a maioria dos brasileiros condenam os atos que as CPIs dos Correios, do Mensalão, dos Bingos ora investigam. Não há dúvida de que os que cometeram tais crimes também tinham a idêntica mentalidade de “cadê o guarda?” Quem desrespeita o sinal vermelho porque não tem “um guarda” no cruzamento não desrespeita apenas a Lei. Desrespeita o bom senso. Assim como alguns, o dinheiro público; e muitos, o bem-estar e a vida de pessoas e animais.
Um cão sem guia na rua é sério candidato a animal perdido: basta passar uma cadelinha no cio pra que ele vá atrás, atravesse a rua feito louco; uma explosão de fogos ou de pneu faz idêntico efeito. Ele pode se atracar a um igual que não lhe pareça muito simpático ou que ache ser um invasor do seu território. Mesmo adestrado, um animal é um ser irracional, embora me ocorra que os humanos muitas vezes o são.
Dia desses fui derrubada por dois cães soltos na rua Fidalga. Poderia ter sofrido uma fratura de queixo, perdido um dente ou quebrado os pulsos – pois foi nestes que me amparei na queda. Os donos continuaram soltando os cães na rua. Foi preciso uma longa conversa para que compreendessem as possíveis conseqüências deste hábito. Agora – infelizmente – os animais vivem presos em correntes dia e noite. Antes, eles ainda tinham uns minutos de liberdade. Agora vivem como prisioneiros perpétuos. Nem direito de andar pelo amplo quintal os cães têm.
Elefantes de circo e animais de zoológicos desenvolvem neuroses que se manifestam por movimentos repetitivos. Cães presos indefinidamente podem desenvolvê-las também. Podem tornar-se deprimidos ou agressivos. No caso de se ter que doá-los, é necessária muita paciência para ressocializá-los. Às vezes isto se torna impossível. Maltratar um animal não é apenas espancá-lo. Isto se chama crueldade. Maus-tratos podem ser mais insidiosos: não fornecer água limpa pro animal, não lhe dar comida adequada, não permitir que ele se movimente, não lhe dar atenção.
Entre a liberdade sem limites e as malditas correntes há o bom senso. Na falta dele só restam “o guarda” e a multa.
Circo sem Animais – Roger Lin (PSB), ex-vereador de São Paulo, deixou um legado pelo qual os bichos agradecem: um projeto de lei que proíbe a utilização de animais em circos e congêneres. Por empenho do vereador Aurélio Miguel (PL), 2° vice-presidente da Câmara Municipal, em 30 de junho foi derrubado o veto de Serra à lei. Ela deverá ser regulamentada e entrar em vigor dentro de 90 dias. Há coisas na vida que os bons campeões aprendem. Uma delas é reconhecer o mérito dos outros, além do próprio.
No domingo, 3 de julho, houve passeata nas avenidas Paulista e Consolação que seguiu até a Santa Casa de Misericórdia. Recentemente um cão ainda vivo e com o corpo aberto pra “demonstração” em aula fora encontrado num saco de lixo, próximo a um hospital. A manifestação do Movimento da Proteção Animal foi contra o uso de animais para tal fim, perfeitamente substituível por outros métodos – os chamados alternativos – mais eficientes, modernos e humanitários. Lá entre os manifestantes estavam os campeões Éder Jofre e Aurélio Miguel.