Alexandre Youssef, ou Alê Youssef como é mais conhecido, é paulistano e formado em Direito pelo Mackenzie. Foi assessor do então Ministro da Justiça José Carlos Dias, no governo Fernando Henrique Cardoso. Posteriormente, trabalhou como coordenador dos programas voltados para a juventude na gestão da prefeita Marta Suplicy. Depois, foi chefe de gabinete da vereadora Soninha Francine, provável candidata à prefeitura. Em novembro de 2005, deixou a vida pública e junto com o sócio Guga Stroeter, inauguraram a Studio SP, na Vila Madalena, um espaço multiuso, com capacidade para 320 lugares. A casa promove de terça a sábado, um variado leque de opções com cantores e grupos musicais. Nasceu no bairro da Liberdade, depois morou em Pinheiros, em Perdizes e atualmente em Higienópolis. Nesta entrevista, Alê Youssef fala sobre a vida noturna que a Vila Madalena tem e que a tornou tão particular na cidade.
Como e quando surgiu a idéia do Studio SP?
Eu e meu sócio Guga Stroeter queríamos criar um ponto de encontro de artistas, produtores e interessados em música. Um espaço multidisciplinar, inspirado em projetos parisienses. Como o Guga é o dono do imóvel, tudo deu certo para que a gente ficasse por aqui.
Qual é o conceito da casa?
Um bar, com estúdio de música e voltado para as artes. No futuro, vamos produzir CDs e DVDs das bandas e dos músicos que se apresentam aqui. Nossa proposta é diferente da maioria das casas da Vila Madalena. A maioria delas toca muito samba-rock, samba ou cover. Nós não. Nada contra, mas queremos artistas que estão ligados à vanguarda da música popular brasileira. Queremos e prestigiamos artistas e bandas com trabalho autoral. Esse é o nosso diferencial.
O que você destaca?
Temos uma mesa de monitores para o som do músico no palco e das caixas acústicas. Mesmo sendo um espaço pequeno, temos um som muito bom. Considero um diferencial em relação a outras casas da Vila Madalena. O tratamento acústico também é bom e garante que você vai ouvir tudo com muita qualidade.
Qual é o perfil do seu público?
É heterogêneo e na faixa dos 25 anos, com uma ligação cultural muito forte e é interessado em música, trabalha com isso, como produtores e jornalistas. E muita gente vem através desse público mais freqüente.
Quem define a programação?
A direção artística da casa é feita por mim e pelo meu sócio.
A Vila tem uma grande quantidade de artistas. Eles têm preferência?
Não necessariamente. A Vila tem uma massificação de artistas, shows e cada casa tem seu estilo. Acho que a Vila Madalena está praticamente consolidada, com gente daqui e de fora.
Como você vê as inúmeras opções que o público tem na Vila Madalena?
Acho que as casas daqui precisam começar os seus shows mais cedo. A maioria se destina ao público que quer tomar um chopinho, passar umas horinhas. A nossa casa está fora desse eixo, tem um espírito vanguardista e apostamos nisso e tem dado certo.
Compare a vida noturna da Vila com outros bairros de São Paulo.
O espírito botequeiro daqui é positivo e tradicional. E é bom que ela seja assim. Devemos evitar o modelo das casas da Vila Olímpia, por exemplo. Muitos lugares de lá foram baseados nos que aqui existiam ou existem. Viraram uns “epcot centers” da Vila Madalena. Um padrão de estabelecimento diferente do que tem aqui. E de uns tempos para cá, está acontecendo o que eu chamo de “cópia da cópia”. Novas casas estão aparecendo aqui inspiradas nas casas da Vila Olímpia. O público vem e cria um choque entre o público daqui e os que gostam de baladas. Isso pode descaracterizar a Vila Madalena. A maioria dos novos bares segue este estilo.
Isso é um modismo ou veio para ficar?
Se for modismo, tudo bem. Se for um estilo de negócio, é ruim. Vejo que muitos botecos daqui da Vila instalaram TVs de plasma para o público ver jogos, noticiário. Felizmente, os mais tradicionais como o Genésio, o Genial, o Jacaré Grill, o Filial, o São Cristóvão e outros continuam como o espírito de sempre.
Essa vocação artística da Vila Madalena vai continuar ou corre o risco de acontecer o mesmo com o Bixiga?
Deve continuar assim. Mas deve tomar o cuidado para não perder a essência.
Como você vê a concorrência?
A casa que eu mais respeito é a Grazie a Dio. Sempre teve uma programação com a cara da Vila Madalena e que deve ser valorizada. Por outro lado, se muitos vieram para cá, casas como o Blen Blen e outras que eram importantes na noite fecharam e pouco se falou nisso. Por outro lado, participamos junto com outras casas de projetos com o poder público como o Programa Noite Viva. Agora na Virada Cultural (26 e 27 de abril) cada casa participante vai ceder seus DJs. Estabelecemos parcerias com a Prefeitura para melhorar os transportes, a saúde, tanto para os trabalhadores como para os freqüentadores do bairro. São ações que valorizam a vida noturna como importante elemento cultural e econômico de São Paulo.
Entra aí a sua parceria com Ongs como a Barong?
Sim. Temos uma máquina de camisinha da Barong instalada no Studio SP que vende o preservativo a um real. Acho que a noite abre muitas portas para parcerias importantes. Nós, empresários, temos que trabalhar para a redução do consumo de álcool, de drogas e também de doenças sexualmente transmissíveis. É nossa obrigação e temos um papel social. Não adianta ser individualista, precisamos ajudar e sermos responsáveis.
Você, que já trabalhou em funções públicas, como é trabalhar com a noite?
Passei do formal para a descontração e a leveza com esta nova atividade. O ambiente é mais descontraído, com certeza, mas o trabalho é tão puxado como no tempo da Prefeitura ou do Ministério da Justiça.