Foi na Vila Madalena

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Foto:

Iki, brilho em japonês

Foi na Vila que cheguei em 1982. Vinda da
Bela Vista; antes, de Copacabana, e mais anteriormente, de Recife. A
Vila Madalena mais parecia uma cidade de interior: noites silenciosas,
podia se fazer piquenique à meia-noite no meio da Rua Fidalga. Se nela
passassem dez carros por noite, seria muito movimento. Só havia dois
bares, estudantes, hippies e oficinas de carros. Não lembro se existiam
muitos cachorros nas casas. Os bichos ainda não faziam parte das minhas
preocupações. Mas o meio ambiente já fora motivo de minha atenção em
“Brasil, de Fio a Pavio”, peça montada dois anos antes pelo Grupo
Artefato, da Cooperativa Paulista de Teatro. Os ensaios da peça
aconteceram na Vila e foi então que a conheci. Gostei da sua quietude e
simpatia.
Alguns anos depois, a quietude foi se transformando em
casas demolidas, bares e restaurantes, notívagos barulhentos… Aí
apareceu o meu Iki. Abandonado na esquina da rua Aspicuelta, levado
pelo caminhão do Centro de Controle da Zoonose, de onde o resgatei e lá
descobriria a terrível face de animais sendo mortos às centenas,
diariamente. Já era fevereiro de 1997. Minha cabeça deu uma guinada.
Das minhas preocupações com as artes em geral e políticas de tantos
anos, e há poucos com o meio ambiente natural, constatei o que há de
sofrimento ignorado na vida dos animais. Sim, animais, pois tal quadro
não fazia parte apenas da realidade dos gatos e cães. Depois,
estenderia a visão daquele terror do CCZ aos bovinos, suínos, caprinos
que passam pelo mesmo abatedouro, por culpa nossa de cada dia, no prato
nosso de cada refeição.
Um ano depois já me unia à Heloísa Costa
Alves e iniciávamos o grupo Companhia do Bicho. Como lutamos pelos
animais do bairro! Heloísa – sempre diplomática – e eu, mais afoita. A
nós vieram juntar-se outras tantas, entre elas, Braulina (e alguns
poucos). Penna nos emprestaria o salão do Centro Cultural para mutirões
de esterilização e vacinação. Em fevereiro de 2001 escrevi minha
primeira coluna aqui e, agora, longe da Vila, chego a de número 111.
São histórias que fazem uma pequena história. Longe da Vila, lembranças exaladas do pulmão de uma chácara.

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