Num pileque homérico, junto com os caiçaras, amigos que fiz em Maresias, acabamos com o estoque de vodca e cachaça do recém-criado bar Soro Fisiológico depois de lotarmos minha camionete de coco pronta pra ir à Bahia visitar nosso amigo Lukinha que acabava de mudar pra aquelas bandas, ateamos um lindo fogo em todo o bar, enquanto Dito pescador e sanfoneiro, deixava sua sanfona reluzir de um lado do fole a prata do brilho da lua cheia e de outro o dourado do fogo iluminando de tabela, o rosto alegre de cada um, naquela noite estrelada no meio da mata, feitos tal como um bando de Neros tupinambás cantando forró, Roma ardia em fogo… Assim devolvi o terreno limpo para o dono, conforme o combinado.
Sempre adorei partir, ainda mais de manhãzinha, nem noite nem dia. Camionete lotada de coco. Com meu velho chapéu, o grande John partia com seu cavalo sem olhar pra trás deixando a cidade que diminuía aos poucos com o rastro da poeira, tal qual o final de um filme do velho oeste. No caminho ia trocando coco com cadeira de balanço, rede, casal de papagaio, loro, pitomba, samambaia de metro, arara de madeira, almoços e o cacete e dá-lhe coco nas permutas. Minha mulher, Vera, que sempre chamei de Onça, começava a me relembrar a cada aquisição de que, a camionete já superlotada com tudo amarrado numa lona que inflava e abanava cambaleante, ainda iria ser parado pela polícia, comando etc, papápapapá. Não deu outra, de tanto a Onça falar, na divisa de estado da Bahia, vejo adiante um guarda no meio da pista fazendo sinal para encostar. E mais papapápapá távendo, távendo, sem parar. – Boa tarde, fiscalização do IBAMA, documentos, por favor. E a Onça não parava de falar. O guarda já aflito com a gritaria só olhava assustado. Eu olho para ele e digo com os punhos fechados na janela, – Seu guarda pode me levar, carrego uma onça silvestre aqui na camionete! Tapas e mais bafafá, até que o guarda diz puto da vida: – Vai, vai, nem vou olhar nada, some todo mundo daqui!
E de novo partíamos, sobe o letreiro na grande tela: THE END. Retomamos a estrada, não era dia nem noite.
pedrocosta.pira@uol.com.br