Eduardo Gudin, talento e muitas canções

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Eduardo Gudin é um talento no violão e tem mais de 300 músicas criadas em parceria com gente do porte de Paulo César Pinheiro e Paulinho da Viola. Aqui, ele conta um pouco da sua carreira e sua relação com a Vila Madalena.

O relacionamento com a Vila Madalena é antigo para este paulistano que morou em vários endereços na região. “Desde 1975 moro na região de Pinheiros e da Vila Madalena. Na Henrique Schaumann, na Fradique Coutinho e agora moro perto do Sacolão da Vila Beatriz”, lista.

Conta que pelo tempo de vivência por estas bandas, Gudin, tem muitas lembranças e fala delas sem saudosismo. “Quando cheguei não existiam tantas opções de bares como atualmente. Lembro do Bora-Bora e do Quincas Borba na Henrique Schaumann, no antigo Empanadas Bar eu me encontrava com o Arrigo Barnabé, o cineasta Hermano Penna e o José Pena, [atual presidente do Partido Verde]. Por aqui a gente encontrava muita gente ligada à música como a turma do Gereba, Geraldo Azevedo e outros mais. O Teatro Lira Paulistana também animava a região. E gente de cinema como o pessoal da Tatu Filmes, hippies e estudantes da USP”.

Gudin em seu apartamento na Vila Madalena. (foto/Tiago Gonçalves)
Gudin em seu apartamento na Vila Madalena. (foto/Tiago Gonçalves)
Hoje, o número de bares e outras atrações etílicas e musicais na Vila é enorme e Gudin considera que esse crescimento trouxe para cá, “gente que não é morador da região como antigamente a gente encontrava nos bares. Mas isso é normal e aconteceu em outros bairros de São Paulo”, comenta.

Por falar em bares, Gudin, criador de sucessos como “Verde” e “Velho Ateu”, foi sócio do memorável Vou Vivendo que funcionou por anos na Pedroso de Morais. “O bar foi aberto em 1984 e entrei de sócio com o Helton Altman e sai em 1989. Era um bar em que a música era uma atração”. E como sempre gostou de frequentar bares com música brasileira de qualidade e ao vivo, o Bar do Alemão (Av. Antártica, 554, Água Branca, tel. 3862-5975) era um dos lugares onde ele encontrava com Nelson do Cavaquinho, Adoniram Barbosa e hoje é sócio e também dá umas canjas. O bar acaba de completar 50 anos de funcionamento. “O Alemão é uma das referências de boa música brasileira ao vivo e pretendo manter essa história por muito tempo”, afirma. Pode-se curtir uma nova geração de músicos como Mauricio Sant’Anna, Mapyu, Cezinha e a cantora Lela Simões que se apresentam regularmente.

O início da carreira de Gudin começou cedo. “Comecei a tocar violão aos 12 anos e aprendi rapidamente. Aos 16 anos, consegui ser ouvido pela Elis Regina que apresentava o programa “O Fino da Bossa” na TV Record. Ela gostou e fiz lá a minha primeira apresentação tocando uma música do Ari Barroso o que para mim, foi o máximo!”, recorda.

No Bar do Alemão com o parceiro Paulo César Pinheiro (Arquivo Pessoal)
No Bar do Alemão com o parceiro Paulo César Pinheiro (Arquivo Pessoal)
O lado compositor apareceu anos depois. “Eu compunha a melodia e entregava para algum dos parceiros colocar a letra. Até que um dia consegui fiz duas músicas e senti que eram boas. Não sei explicar o porquê. Uma delas inscrevi no Festival da TV Record. Fui o mais jovem compositor daquele festival. E tinha músicas do Chico Buarque e Paulo César Pinheiro em parceria com Baden Powell com ‘Lapinha’”.

Foi naquela época que Gudin começou uma longa e criativa amizade e parceria com Paulo César Pinheiro. Ele lembra que “o Baden foi muito generoso e incentivou a minha parceria com o Paulo César, que era um ano mais velho do que eu. Com o Paulo tenho mais de 80 músicas compostas. Entre elas, ‘Mordaça’”.

Músicos como Baden Powell, Chico Buarque, Paulinho da Viola “um artista completo”, Helton Medeiros, Frank Sinatra exerceram influência no trabalho de Gudin. Mas um deles se destaca. “Não sei imaginar como seria se o Tom não tivesse existido!”, declara.

Além de participar de festivais, Gudin também organizou um pela TV Cultura onde competiu com a música “Verde” que foi interpretada por Leila Pinheiro que iniciava a carreira. A cantora Tetê Espíndola venceu com “Estava Escrito nas Estrelas”. Hoje ele não vê futuro neste tipo de torneio musical “Na época a TV Record só tinha o canal de TV e a escolha dos jurados era livre sem influência de gravadoras. Tinha menos pressão para os jurados. Hoje, programas como The Voice e sua versão Kids não revela ninguém. Para falar a verdade, o concurso de calouros do Raul Gil é mais autêntico”, afirma.

Para o compositor, que além dos inúmeros trabalhos no mercado, em 2015 foi indicado como finalista do Grammy Latino com ‘Eduardo Gudin & Notícias dum Brasil 4’ lançado em 2015. “Foi uma experiência bacana ter chegado a final”.

Nestes tempos carnavalescos Gudin diz que está mais caseiro. Corintiano e naturalmente tem simpatias pela Vai-Vai e é autor do samba “Praça 14 Bis” que fez para a escola. Ele desfilou no ano que a escola homenageou o maestro José Carlos Martins. Ele conta que “eu e a Maria Rita iriamos desfilar no carro do maestro, mas um desavisado da Vai-Vai colocou entre eles, o sambista e vereador Netinho. Eu compareci a todos os ensaios, decorei a música, coisa que pouca gente sabia na hora do desfile”, lembra. Dos blocos de Carnaval já participou e hoje prefere assistir de fora, sem participar como antigamente.

Para ele o público que gosta de música brasileira se renova e a filha e cantora Elisa Gudin confirma. “Ela me conta que sempre tem um público jovem cantando minhas músicas. E isso eu sinto nos shows que faço”. E como diz uma das frases de uma música “e que a nossa emoção sobreviva”. Que assim seja! (Gerson Azevedo)

eduardogudin@uol.com.br

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