Construindo memórias

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Professor de História, que mora no bairro há 58 anos, tem um dos maiores acervos fotográficos sobre a Vila Madalena, que registra as transformações pelas quais ela passou.

A família do professor de História da UNESP e escritor, Eduardo José Afonso, tem uma longa história com a Vila Madalena. Hoje, ele tem um acervo com mais de 6 mil fotografias, que registram desde grandes áreas verdes e antigas casas, até imagens das ruas mais agitadas, com altos e modernos prédios. “Minha família veio para a Vila em 1936… tenho muitas fotos antigas tiradas por meus primos, mas eu mesmo comecei a fotografar em 1980”, conta à reportagem.

Eduardo mora desde os dois anos na Vila e hoje, com 60 anos de idade, presenciou muita coisa se transformando ao longo das décadas. “Quando tinha cerca de 10, 12 anos, na década de 1970, tinha pouco carro circulando nas ruas. Eu brincava de peão, bolinha de gude… Então, em 1970 os carros começaram a aumentar, em 1980 foram os prédios e em 1990, com a inauguração do metrô, aconteceu o “boom” da construção… Nesta época, eu morava na rua Purpurina.”

Há cerca de dois anos, Eduardo participou da 7ª Mostra de Fotografia com o seu acervo de fotos do bairro e, desde então tem sido procurado por proprietários de bares e restaurantes para ceder uma ou outra foto, coisa que ele se recusa a fazer. “Nunca quis ceder partes do acervo, principalmente porque eu trabalho com história oral há 30 anos e esse trabalho de fotografia que faço, não serve apenas para ilustrar, serve sim para construir a memória da Vila Madalena”, declara o professor.

Ele diz ainda que já deu inúmeras reportagens contando sobre o seu acervo, mas que seu grande sonho ainda não se concretizou: o de ter um espaço para expor o seu arquivo inteiro, mostrando as inúmeras transformações pelas quais o bairro passou ao longo do tempo, assim como os personagens que ajudaram a fazer a verdadeira história da Vila. “O bairro tem uma origem humilde, com trabalhadores braçais, que muitos querem esconder, por conta da tradição que criaram (como, por exemplo, da Vila ser uma área nobre, com moradores intelectuais, etc). A Vila foi quilombo, foi colonizada por portugueses trabalhadores, que ajudaram a erguer muitas construções… mas tem muito erro na história contada atualmente, como essa de dar uma origem nobre, com as fidalgas, que nunca tiveram relação entre si… enfim. Eu, como professor de história, busco a verdade, e vou fundo nos registros que a história deixa”, finaliza.

Com menos tempo do que desejaria para continuar registrando as novas imagens da Vila, Eduardo hoje conta com a ajuda de suas duas filhas, Renata e Carolina que, como o pai, amam o bairro e desejam que sua verdadeira história seja contada e recontada quantas vezes for necessário. (ND)

www.facebook.com/eduardojose.afonso

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