Opinião de respeito

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Autor do texto de Opinião do Guia da Vila Madalena, Penna, o José Luiz de França Penna, colabora mensalmente desde o primeiro número. Nesta entrevista, ele fala de suas impressões da Vila nestes vinte anos e outros temas.

Potiguar de Natal, Penna é filho de um baiano e de uma cearense. Diz que fez quase tudo na vida “Menos rádio, minha frustração!”, músico, letrista (em parceria com Belchior, recentemente falecido, é autor do sucesso “Comentário a Respeito de John”), ator (integrou o elenco de Hair), músico (banda Papa Poluição), carnavalesco (bloco Sacu da Vila, que desfilou apenas uma vez pelas ruas da Vila), político (fundador e presidente nacional do Partido Verde, o PV), e desde abril deste ano, é o secretário de Cultura do Estado de São Paulo.

Sua ligação com o Guia da Vila Madalena, editado pela Página Editora, completa duas décadas. “O GVM surgiu de uma necessidade de falarmos sobre nós mesmos”, lembra. “Junto com Kazuo e Ubirajara Oliveira e outras pessoas, nos reunimos no Centro Cultural da Vila Madalena para criarmos um veículo que retratasse as manifestações nucleadas aqui na Vila e daí surgiu o GVM, sucesso até hoje!”. O primeiro número, em agosto de 1997, circulou na 20ª Feira de Artes da Vila Madalena.

Com estilo próprio Penna aborda os mais variados temas. “A crônica, para mim, tem um sabor muito especial. Procuro não falar de política e sim de assuntos do cotidiano. São vários personagens que incluo nos textos como o Mineiro, uma figuraça, meu amigo e compadre”. E afirma que “tenho um fã-clube que quando encontra pela Vila comenta sobre o que escrevo e tem alguns que acham que sou um dos sócios do GVM!”

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Como morador da Vila, Penna passou pelas Ruas Girassol, Fidalga e hoje está na Harmonia. Ele lembra que o “bairro deixou de ter característica portuguesa e hoje muitas das casas daquele tempo desapareceram e se transformaram em estacionamentos. Naquele Brasil dos anos 1970 o país era autoritário e o design urbano português da Vila era uma  característica de outras cidades brasileiras. A gente se sentia em casa e muitos dos que chegaram na Vila vieram de experiências urbanas com características similares”.

A atividade cultural pela Vila sempre foi muito grande e foi a partir desta agitação que surgiu a Feira da Vila. “Chegamos a ter nove produtoras de vídeo, incluindo a minha que tive em sociedade com meu primo-irmão Hermano Penna (cineasta, diretor de Sargento Getúlio, entre outros filmes). A Feira de Artes da Vila Madalena teve como missão ocupar o espaço urbano e de resistência naqueles tempos. Um local onde a gente pudesse mostrar e vender nossos produtos e artesanato, desde a economia criativa, ao lançamento de novos artistas e bandas como Arrigo Barnabé, Mamonas Assassinas, Itamar Assumpção, atores…”.  A feira faz parte do calendário turístico da cidade de São Paulo.

O carnaval dos últimos anos, que recebeu um grande número de blocos e foliões, merece um comentário de Penna. “As pessoas vêm de fora porque sabem que na Vila tem gente a qualquer hora. Em todos os lugares do mundo é assim. Nós trabalhamos de fato para estar na rua. Mas para quem mora na Vila, a qualquer hora do dia e da noite, você encontra os vizinhos se relacionando. A Vila Madalena é diferente de outros bairros da cidade”.

Destaca atrações como o Beco do Batman ou da Rua Belmiro Braga, “são museus de grafiti a céu aberto e quando passo por lá, sempre vejo muita gente fotografando e postando. É um movimento que não vai diminuir. O que precisamos é oferecer mais serviços para esses visitantes, desde a coleta de lixo à segurança. A Copa do Mundo de 2014 foi um exemplo. Foram milhares de pessoas dos mais variados países e cada uma vestindo a camisa de seu país de uma maneira fraternal, foi muito legal para a cidade”.

Como político e presidente de partido, Penna não deixa de falar sobre os seus colegas políticos. Para ele, “na Vila, muita gente que me conhece e sabe da minha atuação como político, sempre quer saber o que acho e penso destes momentos de nossa política. Sempre dou minha opinião. O que eu noto é que os políticos não têm, neste momento, uma grande apreciação por parte dos cidadãos. Mas eu nunca fui agredido ou ofendido. Afinal, não tenho o que esconder, não tenho alteração de patrimônio e essas coisas…”, afirma.

À frente da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo desde abril deste ano, Penna critica as elites brasileiras, “que ainda não conseguem compreender a importância e a economia da cultura. É reconhecido em outros países do mundo e aqui não. Lembro que 1 real investido em cultura retornam 4. Assim como o saneamento básico que é outra tragédia no Brasil e que deveria receber mais investimento, para auxiliar na prevenção de doenças. Neste momento brasileiro, a cultura é o básico para recompor o nosso pacto social e foi isso que me trouxe aqui na Secretaria. Porque eu penso, exercito isso e sei da dificuldade que a nossa elite tem em compreender o papel da cultura. Me senti obrigado a vir para a secretaria. A estrutura da secretaria da Cultura é muito grande, temos a Rádio e TV Cultura, o Memorial da América Latina, a Sala São Paulo, aqui ao lado, para falar dos equipamentos aqui na Capital. A dotação orçamentária é ridícula, em torno de 500 milhões de reais, mas felizmente temos uma funcionalidade extraordinária. O nosso orçamento deveria ser, pelo menos, 1% do orçamento do Estado de São Paulo. Ainda estamos longe disso”, lamenta.

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