Carnaval é para unir

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Para falar sobre o carnaval e suas implicações na vida do bairro, ouvimos a produtora cultural  que, junto com o músico Guga Stroeter, fundou em 2007 o Centro Cultural Rio Verde.

Localizado na Rua Belmiro Braga, o Rio Verde, como também é mais conhecido, tem uma programação musical e cultural que se tornou uma referência cultural na cidade. “Nosso fio condutor, desde o início, é ser autêntico. Aqui, mesclamos artistas consagrados com outros grupos ou artistas. O foco do Rio Verde é prestigiar o músico e o trabalho autoral. Conseguimos fechar as contas, alugando nosso espaço para eventos corporativos e parceria com os contratantes dos shows para cobrir custos e viabilizar o espaço”, assim Kiki explica como administra seu espaço.

No período do carnaval, o Rio Verde também entra na folia. No dia 4 deste mês, o teatro foi o palco de mais uma edição do concurso de marchinhas carnavalescas organizada pelo Bloco Nóis Trupica Mais Não Cai. O bloco, que desfila pelas ruas da Vila Madalena, fará seu desfile no dia 19 (domingo) a partir das 15 h e a concentração dos foliões será em frente ao Rio Verde.

Tiago Gonçalves

Para Kiki, o carnaval na Vila Madalena cresceu muito nestes últimos anos e se por um lado é bom, por outro ocorreram problemas e reclamações dos moradores. “Todo bloco quer desfilar por aqui, pela visibilidade que a Vila dá”. Porém para ela, só deveriam desfilar por aqui “os produtores que têm uma ligação, ou CEP aqui na Vila.”

Sobre o patrocínio de grandes cervejarias, Kiki acha que “a relação dos blocos com as marcas de cerveja deveria fortalecer os blocos e não transformar os blocos em bares ambulantes. E acho que o patrocínio não é suficiente para cobrir os custos dos blocos. É um grande chamariz para outras festas e eventos organizados pelos mesmos produtores”. Ela lembra que organizar uma festa “é diferente de organizar um desfile de rua para milhares de pessoas.”

Para a produtora, o carnaval deveria ser “uma oportunidade para unir os blocos e ter a sensibilidade para educar os foliões, sem ser a tia chata, para que os foliões e principalmente os adolescentes tenham consciência para se divertir na festa sem necessidade de beber demais, além de cuidados com a saúde. Nesta época, para fugir da pressão dos dias normais, o folião quer ‘soltar a franga’. Precisamos fazer um carnaval mais generoso, sem depredar o meio ambiente. Seria uma forma de atrair as famílias e principalmente as crianças.”

Os desfiles que neste ano deverão ser encerrados às 20 h “são um fator positivo”, diz Kiki. “A festa é para divertir e não se transformar em uma loucura como aconteceu em carnavais recentes aqui na Vila Madalena”, lembra.

Kiki não deixou de falar sobre a vizinhança. “O respeito aos vizinhos por parte dos blocos é responsabilidade de quem os organiza. É preciso ser generoso com a comunidade e os vizinhos. As ruas são de todos, das crianças, jovens, adultos e idosos. Os foliões e blocos precisam ser conscientes e causar o menor impacto sonoro possível, além de estimular as práticas positivas como alertar e prevenir os problemas de saúde, como o uso de camisinhas, por exemplo”, diz Kiki, que é mãe de uma jovem e quer que a filha se divirta, mas não deixa de se preocupar.

Sobre a cobrança de taxa, pela prefeitura, dos blocos que não são da cidade, Kiki tem dúvidas. “Não sei se é uma forma de arrecadar dinheiro ou se a intenção é proteger os blocos da cidade. Corremos o risco de que quem tem dinheiro poder aproveitar mais e melhor a festa. Poderia tirar a autenticidade do evento.”

Kiki lembra que existem blocos que se preocupam com a Vila Madalena e têm responsabilidade orgânica com a região e cita, como exemplo, os blocos Nóis Trupica Mais Não Cai e o Kolombolo Diá Piratininga. “Acho que as pessoas deveriam discutir com generosidade a ocupação e a preservação do espaço público, não apenas no carnaval”, conclui.

Centro Cultural Rio Verde. Rua Belmiro Braga, 119, Vila Madalena, Telefone 3459-5321, centroculturalrioverde.com.br

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