Valentões da Vila

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Era o dia do casamento de Nagib e Olinda, comemorado em plena rua, na Fradique Coutinho. Todos se conheciam, por isso, qualquer festa se comemorava ao ar livre. Todo bairro tinha lá seus valentões prontos para uma confusão ou uma briga. Dig, Boi, o músico Sebastião e Sabiá, goleiro do Leão do Morro, foram os nossos maiores lúdicos encrenqueiros.

O plano do Boi e do Dig era roubar o bolo da noiva. Ao saírem correndo com o bolo, foram agarrados pelos convidados. Do outro lado da rua havia uma pilha de madeira para fogão a lenha, o pau comeu feio. Nem a radiopatrulha conseguiu acalmar a moçada, até guarda apanhou. No dia seguinte, o jornal Notícias Populares estampava: “FESTA DE CASAMENTO DE TURCOS ACABA EM PANCADARIA”. Na Vila se brigava muito. Em cada partida de futebol, entre os clubes, também rolava quebra pau. Nos bailes do 1º de Maio era bafafá do começo ao fim, sempre iniciada pelos tais valentões. Sujeito de fora, então, só voava pela janela. A Vila era de dar inveja até na briguenta aldeia gaulesa de Asterix.

Não foi só o tempo que se ocupou em acabar com os valentões. Há quem diga que foi quando o tempo virou dinheiro. Uns acham que foi quando a cidade se verticalizou, ou quando o baseado virou crack, ou quando o Perventin virou Fluoxetina. Quem sabe quando o futebol deixou de ser arte.

O fato é que foi sumindo do cenário o brigador de rua e o malandro de andar macio e de fala maneira. O terno branco escureceu, o sapato bicolor se aposentou, o botequim virou lounge, o chapéu virou boné; o otário, Mané; o malandro, bandido ou candidato. O magrelo valente ficou bombado, as festas de rua foram para os condomínios fechados e os vira-latas da rua, domados de ódio, amanheceram pitbulls acorrentados. Os boêmios jazem sem paz, já velhos e solteiros, cada qual se trancou em SPAs, não deixaram seus DNAs e, ao saírem de cena, simplesmente apagaram a luz das noites valentes.

pedrocosta.pira@uol.com.br

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