As primeiras imagens que tenho são de uma alegria esfuziante. Aquele monte de papel colorido. Aquele som meio música, meio ruído e fala, criava um ambiente excitante para a alma de todo menino. Eu me juntava a turma enlouquecida sem qualquer objetivo concreto além de brincar naquele momento especial que era a eleição. Até hoje acho que quem gosta demais desse episódio são as crianças.
Mais tarde um fato marcou minha vida para sempre. Já estava no curso primário quando um tumulto enorme contagiou todo o colégio. Era o suicídio do presidente Getúlio Vargas. Pessoas gritando nos corredores como se tivesse morrido o pai do País. Fui convocado para no caminho de casa, avisar as outras escolas do ocorrido e da necessária suspensão das aulas. Convém lembrar que telefone ainda era um instrumento de poucos. Me senti um menino importante como porta-voz desse acontecimento.
Quando cheguei em casa, soltei logo: ” O Getulio se suicidou”. A reação foi surpreendente pra mim. Onde você ouviu isso? Expliquei… E ouvi comentários sofisticados das razões políticas que o levaram a morte. Meu pai que era de oposição a era Vargas se convertera. E partiu para obter mais notícias com ouvido preso no rádio, que estava transmitindo ao vivo do Palácio do Catete.Digamos que foi nesse momento que perdi a inocência política. Do fascínio lúdico que as eleições traziam, somei posicionamentos, interpretações e tudo mais que essa discussão traz.
Hoje deploro o estado de decomposição que esse momento tão especial da nacionalidade se encontra. Estamos sendo penalizados pelos mensalões, cachoeiras e estas coisas que emporcalham e afastam até as crianças dessa festividade.