A história de cada um

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A história de cada um

Toda pessoa tem um papel como agente de transformação da história e ao contar sua história, democratiza e amplia sua participação na construção da memória social. Essa é uma das missões do Museu da Pessoa, criado em 1991, com sede na Vila Madalena. Atualmente, com mais de 15 mil depoimentos. São anônimos, em sua maioria, mas tem gente mais conhecida como o educador Paulo Freire e o ex-jogador de futebol Raí, já fizeram seu depoimento. Cada entrevista está registrada em som e vídeo. As entrevistas podem ser acessadas através do site do Museu da Pessoa. Além das entrevistas, o site também tem uma biblioteca virtual onde com alguns livros disponibilizados gratuitamente. Para falar sobre o museu, convidamos Karen Worcman, historiadora formada com mestrado em linguística, presidente e fundadora do museu. Nesta conversa, ela revela como o Museu da Pessoa funciona. Uma boa mostra da cultura brasileira. Quem sabe a próxima entrevista não será a sua?

Como surgiu o Museu da Pessoa?
Em meados de 1991, eu e um grupo de amigos participávamos de um evento no Museu da Imagem e do Som (MIS). Convidamos as pessoas a contar sua história de vida. Mais tarde, ao grupo se associou um pessoal de multimídia. Iniciamos em 1994, quando fomos convidados para montar o Museu do São Futebol Clube.

A sede sempre foi aqui na Vila Madalena?
Não. No início, era na Rua Cardeal Arcoverde. Posteriormente viemos para este endereço na Rua Natingui. Estar na Vila Madalena é muito importante para nós pela empatia que temos com a Vila que é um lugar criativo, dinâmico e cheio de pulsação, como nós.

O Museu da Pessoa, criado aqui no Brasil, serviu de inspiração para outros museus semelhantes?
Sim. O nosso inspirou outros três. O primeiro foi em Portugal, depois no Canadá e em seguida nos Estados Unidos. Embora tenhamos ligação, cada um tem uma administração própria e independente.

O acervo atual tem quantos depoimentos?
São mais de 15 mil depoimentos. Além deles, temos um acervo de fotos como mais de 70 mil imagens que foram cedidas pelos nossos entrevistados.

Como são coletados os depoimentos?
São feitos aqui no nosso estúdio. Geralmente gravados às terças e quintas e cada depoimento leva, em média, duas horas. Posteriormente, os vídeos são editados e depois disponibilizados no site. Recebemos também depoimentos que são enviados através do site. Recebemos cerca de 40 a 50 depoimentos por mês pela internet. Eles também passam por uma pequena edição e depois são incluídos no site.

Antes é feito um roteiro ou cada um conta sua história como quer?
Geralmente eles contam onde nasceram, mas varia de pessoa para pessoa, não tem uma forma rígida. O que importa são os aspectos pessoais de cada um.

As pessoas vêm espontaneamente ou são convidadas?
Das duas maneiras. As nossas primeiras entrevistas, nós convidamos as pessoas a falar. Tem gente que vem espontaneamente e agenda a gravação. Os mais conhecidos, nós convidamos e eles aceitaram dar o seu depoimento. Mas a maioria é de anônimos.

Entre os conhecidos, quem fez depoimento no Museu da Pessoa?
São vários. Citaria o Paulo Freire (educador), o Lula, (então líder sindical), Raí (ex-jogador de futebol),  Antonio Mascaro (fotógrafo), José Antonio da Silva (artista naif), Wesley Duke Lee (fotógrafo e artista plástico), Paulo Vanzolini (compositor e zoólogo), Vida Alves (atriz de TV), Eliezer Batista (empresário), Roberto Setúbal (banqueiro).

O que leva as pessoas a contarem suas histórias?
São vários os motivos que cada um tem para contar sua história. Os mais velhos querem compartilhar com os mais jovens o seu testemunho de vida. Diria que é um desejo de se eternizar. E todo mundo tem uma história que merece ser contada. Precisamos ouvir o que cada um tem a dizer.

O depoimento no Museu da Pessoa é cobrado?
Não. Tanto na nossa sede como via internet, ninguém paga nada. Quem grava o seu depoimento em nosso estúdio, recebe uma cópia em DVD. As cópias extras, são cobradas.

As pessoas se sentem melhor contando suas histórias?
Elas, ao contarem suas histórias, revivem suas vidas. Isso tem efeito terapêutico e serve de reflexão sobre seu viver, além de ser democrático, já que todo mundo tem a sua importância.

Sobre o que as pessoas costumam falar mais?
Falam mais sobre a infância, as brincadeiras que participavam, sobre o trabalho e a família.

Vocês são procurados por estudantes para fazer pesquisa?
Nossa biblioteca é aberta à consulta. Quem nos procura mais são estudiosos e escolares. Muitos deles vêm até o Museu da Pessoa para fazer pesquisas sobre imigração, história…

As pessoas se arrependem e pedem para que seus depoimentos sejam retirados?
Sim, às vezes isso acontece e a gente respeita a vontade deles. Já aconteceu isso algumas vezes.

Embora seja um museu virtual, há interesse de pessoas que querem conhecer a sede?
Sim. Basta que seja agendada a visita.

Como o Museu da Pessoa se mantêm?
Somos uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Temos várias fontes de receita. Patrocinadores como a Petrobras, a Votorantim participam de nossos projetos. Participamos de projetos com instituições e empresas como o projeto que fizemos para clubes como o São Paulo Futebol Clube e outros mais. Quando as empresas nos contratam, escrevemos a história delas, mas do ponto de vista das pessoas que lá trabalham. Do presidente ao faxineiro.

Que empresas você citaria?
Fizemos projetos para a Companhia Vale do Rio Doce, Banco Itaú, Fundação Bradesco, Dieese e outras empresas e instituições. E publicamos mais de 50 livros nesse molde.

E projetos institucionais?
Temos o projeto Memórias dos Brasileiros. Levamos para o campo toda a estrutura para colher os depoimentos e as imagens de brasileiros de todo o país. A ideia é mostrar ao Brasil o lado urbano e como ele mudou nestes últimos anos. Temos o projeto para preservar os saberes do povo em regiões como a do Vale do Jequitinhonha, Vale do Rio São Francisco, na Amazônia e em Rondônia. Posteriormente, tudo isso vai virar exposição, livro e estará no nosso site. Outro  projetos que temos é sobre as histórias de profissões em extinção. São parcerias com sindicatos, Dieese, Sesc, que depois se transformam em exposições.

Como é o trabalho de vocês na área da educação?
Formamos educadores e líderes comunitários para que eles com a nossa metodologia possam criar condições para que os seus alunos e a própria comunidade possa contar e construir a sua própria história. Isso ajuda na auto-estima das pessoas.

Além da internet, os depoimentos também são acessíveis através do rádio…
Temos em nosso site trechos dos depoimentos, mas temos uma parceria com a Rádio CBN, através do jornalista Milton Jung. Regularmente são veiculados na CBN parte das  histórias de nosso acervo.

Além das histórias pessoais, o museu também têm histórias de empreendedores?
Temos uma parceria com Leonardo Prantis que reúne histórias de empreendedores sociais e culturais. São histórias de gente que apesar das dificuldades conseguiu fazer e levar para frente seu projeto e que inspiram.

No dia 16 de maio se comemora o Dia Internacional das Histórias de Vida. Vocês promovem um evento para comemorar a data?
Sim. A cada ano fazemos uma mobilização internacional com um tema. Em 2011, foi sobre a vida. Para 2012, ainda não definimos o tema.

O que está programado para comemorar os 20 anos do Museu da Pessoa?
Estamos programando um evento até o final do ano para comemorar essa data. Pretendemos lançar um livro sobre esses 20 anos com histórias bonitas sobre os brasileiros.
 
Há também uma campanha publicitária…
Nestes 20 anos de trajetória do Museu da Pessoa, estamos veiculando uma campanha institucional desenvolvida pela Agência 141 Soho Square com o título “Todo mundo tem uma história para contar”. Estamos divulgando filmes e anúncios por toda a mídia. Além de divulgar o trabalho do Museu da Pessoa, nosso objetivo é incentivar as pessoas a fazerem seus depoimentos. Pretendemos no final deste ano, fazer o lançamento de novos. É uma forma do Museu da Pessoa contar sua própria história.

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