Estava filmando com Hermano o seu filme “Mário” em plena Amazônia, mais precisamente numa mata em Rondônia, quando um bando de pequenos macacos curiosos se aproximou da nossa equipe. Um motorista me disse que há dias vinha alimentando-os com nossas frutas e que eles no início ficaram temerosos, mas foram adquirindo confiança e no final já estavam comendo em minhas mãos. Fiquei com essa situação por anos na memória.
Agora o Timão contratou Renan, um grande goleiro pelo Avaí, que na oportunidade da estreia demonstrou insegurança. Todo brasileiro é versado em futebol, e os corintianos então começaram a debater esse fenômeno. Será que foi uma contratação adequada? Foi, não foi… Até que alguém defendeu a vinda dele, e emendou: “deixem ele ganhar confiança”. E assim comento duas situações completamente diferentes em que esta palavra aparece. Ampliando o campo do entendimento, vemos que em todos os campos esse é um conceito básico para a construção de qualquer relação. Do indivíduo com seu espelho, do casamento, do grupo de amigos, e fundamentalmente de uma nação.
Aqui no Brasil, nós vivemos numa tremenda crise de confiança. Nada que se diz ou se fala tem credibilidade. Não só os políticos, que são os o mais desacreditados, e com alguma razão, mas com tudo. Em qualquer atividade tentamos descobrir onde está o pulo do gato. Desconfia-se da previsão do tempo, até. Chegamos a um ponto em que a desconstrução é a única unanimidade nacional. Estamos desconstruindo a nação, tamanha é a desconfiança. E em vez de País, esse deserto. O deserto da desconfiança.