Uma Vila família

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Kelly Lima conta como o bairro se transformou em um cenário de aprendizado e novas experiências para ela e seus dois filhos.

Meus primeiros passos na Vila Madalena começaram quando o Murilo, meu filho mais velho, hoje com 19 anos, começou a estudar em uma escola ali na João Moura. Eu ainda morava na Raposo Tavares, perto de Cotia. Com o tempo, ele passou também a freqüentar o Projeto Aprendiz, fazendo aulas de circo, artes e outras atividades. Eu vinha trazê-lo, assistia às apresentações do projeto e achava o bairro simpático e tranqüilo. No começo deste ano, depois de algumas transformações em minha vida, decidi que me mudaria e achei que era interessante eu estar próxima da agência de publicidade onde hoje trabalho. Como a agência fica no Alto de Pinheiros, a Vila era uma boa opção.
Cada dia mais eu percebo que acertei na escolha. Eu não estou muito perto do burburinho do bairro, dos bares e restaurantes, mas posso ir almoçar a pé em um lugar superdiferente e bacana aos domingos com meus filhos, o que acho uma delícia. Aqui também posso encontrar amigos, ir à livraria, tomar um café ou simplesmente dar uma volta para dar uma olhada nas novidades do bairro. Esta é uma coisa muito interessante para mim, poder viver em um lugar onde encontro uma enorme variedade de coisas para fazer e, ao mesmo tempo, os meus dois meninos podem transitar e também se divertir com tranqüilidade.
Hoje, é meu filho mais jovem, de 13 anos, quem mais faz incursões e se aventura pela Vila Madalena. Ele também freqüenta o Aprendiz e caminha bastante pela Vila, sabe o nome das ruas, o que encontrar em cada uma delas. Um dia um amigo disse que tinha visto o Henrique conversando com um homem na frente de um prédio e, quando eu fui perguntar sobre, ele respondeu “ah, é o porteiro, eu sempre passo por lá e cumprimento ele”. Isso é uma coisa legal: cumprimentar o porteiro significa não apenas dizer “oi”, mas também parar e conversar um pouco, trocar idéias. Não me sinto preocupada com as voltas que o Henrique dá sozinho, percebo uma certa segurança, provavelmente por toda esta interação que acontece com a vizinhança.
Aos poucos, nos transformamos em companheiros destas descobertas dos nossos novos arredores. O Henrique ama comida japonesa e toda vez que descobre um restaurante novo me avisa, para que possamos ir juntos. Da mesma forma, já passamos um dia inteiro visitando ateliês abertos por conta do projeto Arte na Vila. O Murilo ainda está começando a descobrir as expressões e o universo que o bairro guarda. Pela sensibilidade e inteligência que ele tem, acredito muito que ainda terá gratas surpresas, principalmente com os artistas alternativos que moram e criam no bairro – e criam não apenas telas, quadros, roupas, mas um modo de vida. Esta diversidade me agrada como elemento educativo, como vivência para a minha família e para mim mesma – uma vez que não acredito que em algum momento da vida a gente deva querer parar de aprender.

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