Uma festa pela paz

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A 29ª edição da Feira da Vila Madalena, o evento mais tradicional do bairro, que este ano acontece no dia 20 de agosto, traz um tema que alerta e faz pensar sobre uma triste característica da sociedade moderna: a intolerância. Seja dentro de casa ou na escola, no trabalho ou no trânsito, com o vizinho ou com o amigo, a intolerância está presente nas mínimas coisas. Basta olhar para o lado. Como você reagiu ao atraso do seu colega para ir ao cinema? E aquele motorista abusado que quase bateu no seu carro? A intolerância também se manifesta em situações mais abrangentes. A diferença cultural, a origem racial, a religião e até mesmo a posição sócio-econômica viraram razões para a intolerância. O que o tema da Feira da Vila pretende questionar é por que a sociedade está se tornando cada vez mais preconceituosa em relação às diferenças.
“Isso é extremamente grave”, diz José Luiz de França Penna, presidente do Centro Cultural da Vila Madalena, organizador da Feira. “Um País que tinha um horizonte laico, todas as religiões valiam a pena, você ia ao candomblé, na missa no domingo, na benzedeira durante a semana, fazia uma simpatia, e de repente surge essa tendência à intolerância de uma maneira geral. Há intolerância em relação à juventude, por exemplo. As pessoas agem como ser jovem fosse um pecado. Não precisa fazer nada, basta ser jovem para estar errado. E há intolerância com a longevidade, com casamentos de pessoas de mais idade com mais jovens”. Penna lembra que a força da sociedade para combater todas as suas mazelas está justamente no contrário, ou seja, na mistura, no convívio com a diferença; a riqueza está justamente em percorrer várias possibilidades. “As pessoas estão buscando um isolamento muito grande e este isolamento gera uma insociabilidade. A vida em sociedade é uma vida de permanente troca. De uns tempos pra cá as pessoas ficaram intolerantes, com dificuldade na vida em sociedade. E mais do que isso. Há uma perda de senso de humor. Então, 'Tofu com bracciolla' é uma coisa engraçada porque tufu é chinês e bracciolla italiano e lembram coisas do nosso idioma”.
Quanto à intolerância com a própria Feira da Vila, Penna diz que algumas modificações foram feitas, como a redução do tempo do evento, que será de 8 às 18h30. “Não podemos é deixar que um evento que foi catalisador para criar um novo paradigma para o bairro se acabe”, diz, acrescentando que “a Vila Madalena de hoje é filha, neta, adotada por um evento chamado Feira da Vila. Quando discutimos a Feira, que há tumulto, há que se pensar que é um dia em que as pessoas vão para rua, se encontram, exercitam a tolerância. Se não for isso vamos chegar a um ponto que não vai valer a pena viver na cidade. Todo mundo deverá achar uma gruta, com distâncias de alguns quilômetros umas das outras, para viver no seu pequeno mundinho”. E Penna vai mais além: “A Feira da Vila é uma forma de ocupação do espaço urbano. Isso tem que estar na cabeça de todo mundo, inclusive para discutir segurança. Se você não se relaciona, não troca experiências, não ocupa o espaço urbano, outras coisas irão ocupá-lo. O medo é um agente também disso. É preciso reverter essa tendência de se viver num micro espaço, das pessoas confinadas”.
“Tofu com bracciola” ainda ressalta a necessidade de se viver com bom humor, de rir de si mesmo e encarar a realidade com mais leveza. “Uma vida solitária, sem senso de humor, não dá energia para superar as coisas. E uma festa como a Feira da Vila é uma coisa bem humorada”. E a brincadeira será um dos pontos altos do evento, que traz diversos tipos de música, artesanato, comida e lazer. “Quero que seja uma festa pela paz, pela convivência, pela harmonia e também pela brincadeira, pela recuperação do bom humor, pelo prazer de estar junto. Isso é muito importante”, completa Penna.

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