Recuperando o “ponto de vista”

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Falo com a moçada muitas vezes ao dia. Sinto neles a velha e boa sede de conhecimento, como foi característica da minha geração e todas as outras que me antecederam. Portanto, um traço próprio da juventude. Querem saber tudo. Às vezes têm até a ilusão de já saberem o bastante, e vêm para o confronto. Em pouco tempo, numa conversa dessas, aprendem o que acumulei ao longo da vida.
Já fui muito resistente com esta sala-de-bate-papo, mas com o passar dos anos adquiri paciência, e mais ainda, descobri nessa relação uma função educadora importante. E ai fico horas ouvindo e respondendo economicamente o que dá pra responder. Tive alguns mestres e recorro sempre a memória deles nessas paradas. Ave Lôlô, grande mão-de-IFÁ do bogum da federação. Feiticeiro maior da nação bantu-baiana. “Seu José, de que vive o professor? Do aluno. Não é? Então tem que ser a conta-gotas”, dizia quando lhe perguntava além da conta.
Esses dias, um sobrinho, Antonio filho de Túlio, do alto dos seus quinze anos, me perguntou sobre o que era o socialismo. Fiquei um tempo refletindo. Passaram muitas coisas pela minha cabeça. Qual a importância disso como elemento de crescimento dele? Será uma indagação profunda ou apenas uma decifração de alguma pichação dessas que agente vê “pelos muros do País” como diz a canção.(Jonh. Minha e de Belchior). E sobre o socialismo o que dizer? Joguei pra frente o assunto e ele imediatamente perguntou uma série de outras coisas.
O conhecimento não é um baú, onde são depositadas informações. Um acúmulo apenas. Principalmente agora, nesse tempo de transformações rápidas e profundas, onde nos debatemos para identificar esses passos futuros. Tudo é importante, eu sei. Mas saber ler esses novos enigmas produzidos pela sociedade e pela natureza é o real desafio. E para isso o instrumento chama-se lucidez. Lucidez e ponto de vista.

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