A sociedade brasileira caracteriza-se por uma pluralidade étnica, fruto de um processo histórico no qual portugueses, índios e negros de origem africana favoreceram o intercurso dessas culturas, levando à construção de um País miscigenado. Apesar disso, esse contato desencadeou alguns desencontros. Índios e, em especial, os negros ficaram em uma situação de desigualdade, situando-se na marginalidade e exclusão social (econômica, política, cultural).
Dentro do ambiente escolar, muito se questiona até que ponto a escola está sendo coerente com a sua função social quando se propõe a ser um espaço que preserva a diversidade cultural e o direito de cada um. Ela é responsável pelo processo de socialização infantil no qual se estabelecem relações com crianças de diferentes núcleos familiares. Esse contato diversificado poderá fazer da escola o primeiro espaço de vivência das tensões raciais.
No entanto, para que a relação estabelecida entre crianças brancas e negras dentro e fora da sala de aula não aconteça de modo tenso, algumas escolas vêm adotando posturas preventivas. Na Escola Infantil Sol da Vila, por exemplo, foi criado o Projeto Boneco. “A idéia é trabalhar, por meio de bonecos étnicos, a não discriminação das raças, envolvendo e introduzindo as crianças em um mundo realmente diversificado”, diz Juliana Quége Soares, diretora da escola.
Oito bonecos (um casal negro, um casal japonês, um casal ruivo e um casal loiro) foram confeccionados pela loja Preta Pretinha Bonecas e Presentes e dividem a atenção de dezenas de crianças, entre dois e seis anos de idade. Juliana explica que cada boneco tem seu próprio registro com nome, nome dos pais e data de nascimento, a fim de aplicar o conceito de identidade. Eles participam ativamente da vida das crianças, sejam nas aulas da escola ou durante os finais de semana, quando um aluno é escolhido para levar o boneco para casa. “A proposta é criar uma interação entre os pais e o universo da criança. Na segunda-feira os pais entregam um relatório escrito, com fotos ou desenhos contando como foi o sábado e domingo em companhia dos bonecos”.
De acordo com Juliana, esta iniciativa tem, inclusive, gerado maior interesse dos alunos em voltar para a escola e contar como foi o final de semana com o “coleguinha”. Mas, em princípio não era assim.“Eles demonstravam certo egoísmo com o brinquedo. Aos poucos foram aprendendo a dividir e cuidar dos bonecos”, diz, acrescentando que “a presença do boneco na sala de aula em nada atrapalha o rendimento das crianças. Pelo contrário, os bonecos até colaboram nas atividades”.
De forma lúdica, o Projeto Boneco pretende colaborar para que essas crianças, em processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e social, incorporem mais facilmente conceitos de cidadania e se tornem adultos desprovidos de preconceitos, revelando que a escola tanto pode ser um espaço de disseminação quanto um meio eficaz de prevenção e diminuição da discriminação racial.
Fonte: http://www.fundaj.gov.br/tpd/147.html