Todos nós temos um sonho de cidade ocupando um canto da cabeça. Aqui em São Paulo isso ganha proporções maiores, porque faz tempo que esperamos a oportunidade em que nossos depoimentos serão ouvidos com algum interesse. Faz muito tempo mesmo. Talvez no governo Setúbal tenha tido alguma iniciativa, através do falecido secretario Caio Pompeu de Toledo, o qual faço justiça nesse momento, pela grande quantidade de intervenções feitas na cidade, no sentido da inclusão social pelo lazer, esporte e ação comunitária. A Vila Madalena foi beneficiada por uma “rua de lazer” na Girassol, nessa época, sendo berço de todo o processo de transformação do bairro.
De lá pra cá, uma onda tecnocrática tomou conta do poder municipal, transformando os nossos mandatários em, na melhor das intenções, simples zeladores. Tapa um buraco aqui, uma avenida ali, e… Nada de ouvir os desejos cidadãos dos paulistanos. E, convém recordar, já tivemos um tempo de desamor generalizado por nossa cidade. Era chique falar mal de São Paulo, como uma maneira rude de escondermos o grau de insatisfação, intolerância e violência com que convivíamos. Sempre contestei esse comportamento. Vejo com alegria a auto-estima recuperada, mas advirto sobre o perigo de retornarmos, caso sucessíveis frustrações aconteçam.
Uma cidade não é um depósito de seres humanos. Nem habitamos impunemente qualquer lugar. Há sempre escolhas, amores, referências culturais que norteiam as opções por esse ou aquele espaço urbano. Se não percebemos o cenário delicado do qual somos partícipes, que é a vida urbana, não saberemos viver plenamente, muito menos dirigir os destinos da cidade.
Dei minha contribuição nas últimas eleições municipais. Fui candidato à prefeitura pelo PV. Portanto, tenho o dever de me posicionar diante da possibilidade do prefeito eleito, José Serra, deixar o cargo para disputar a Presidência da República. Sou radicalmente contra. Ninguém tem a legitimidade, como o eleito, para assumir nossos destinos. E ninguém precisa mais que os paulistanos de um bom governo, enfim.
