Pelos caminhos da Vila

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Nany Semicek veio de Curitiba e encontrou na Vila Madalena um refúgio especial para escrever mais uma página cheia de arte em sua história.

Eu estou na Vila Madalena há dez meses e posso dizer que o bairro tem sido muito importante a minha adaptação aqui em São Paulo. Vim para cá com todas as minhas coisas – que cabiam em um carro – com o objetivo de expandir meus conhecimentos e dar novos passos em minha carreira profissional. Nasci na cidade de Cascavel, no interior do Paraná e com 15 anos (hoje estou com 27) me mudei sozinha para Curitiba para fazer o segundo grau profissionalizante em teatro. Ser atriz e trabalhar com as artes cênicas sempre foram o meu grande projeto de vida. Depois de alguns anos atuando – fiz parte do grupo XPTO, entre outros – e com empregos dos mais diversos para poder me manter, me formei também em Artes Cênicas na FAP (Faculdade de Artes do Paraná), com especialização em direção teatral. Com o tempo e a experiência, comecei a perceber que meu modo de auxiliar a arte que tanto amo e respeito era estando por trás da cena, produzindo e possibilitando o trabalho de outros artistas.
As coisas foram convergindo e numa época em que eu trabalhava como fotógrafa em meu próprio estúdio e recebi a proposta para uma vaga de assistência na Calvin Entretenimento, produtora responsável pelo Festival de Teatro de Curitiba. Este foi um passo extremamente importante: trabalhei na produção do Festival por sete anos, quatro deles como coordenadora executiva. Embora estabelecida profissionalmente, eu sentia que ainda tinha muitas coisas para aprender e que seria importante enfrentar a maior cidade do País, conhecer novas pessoas, me entregar a novas vivências. Fiz uma reviravolta intencional na minha vida e vim. Fiquei um mês entre a casa de uma amiga em Cotia e a casa da minha irmã, que mora em Santo Amaro. Já havia conseguido um trabalho – não relacionado diretamente a cultura, exatamente como eu desejava – quando surgiu a oportunidade de dividir um apartamento na Vila Madalena com outra amiga.
Mais uma vez, sinto que a vida me deu um presente: hoje eu sou muito orgulhosa de viver neste bairro. Confesso que no começo fiquei um pouco desconfiada porque só conhecia a fama da Vila como um lugar cheio de bares, restaurantes e baladas. Não achava que se tratasse de um bairro simpático para morar. Esta imagem mudou rapidamente. Um dia estava tomando uma cerveja e acertando os detalhes da mudança com a Marina – minha companheira de lar – quando passou uma mulher que passeava com o seu cachorro. Fiquei impressionada ao perceber que havia pessoas ali que conheciam a mulher e sabiam até o nome do cão. Acho que este foi o primeiro sinal de que a Vila é sim um bairro com muita simpatia, muito bom também para viver e realizar tarefas cotidianas.
O que mais me encanta na Vila Madalena é a forma como os seus moradores e freqüentadores lidam com as diferenças. Eu posso sair e caminhar de chinelo pelas ruas, tranqüila, sem me sentir intimidada pelos que estão também caminhando por aqui mas super produzidos rumo aos bares e baladas. Aliás, acho caminhar pela Vila ótimo: sempre há alguma manifestação artística espontânea, uma roda de capoeira, algum estabelecimento de onde sai uma música interessante. Os sabores do bairro com seus restaurantes variados é outra delícia à parte. Para mim, que vim de outra cidade e estou longe da minha família e de muitos dos meus amigos, a sensação de estar rodeada de tanta beleza, gentileza e arte é sem dúvida um bálsamo e uma alegria.

Colaboração: DÉBORA PINTO

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