Em sua sétima edição, a Arte da Vila movimentará no primeiro final de semana de abril cerca de dez mil pessoas que poderão visitar os ateliês de artistas da Vila Madalena que abrirão suas portas e é a oportunidade de um contato mais próximo entre artista e consumidor. Na organização do evento desde a sua primeira edição, Valfrido Lima concedeu esta entrevista onde fala deste grande programa cultural que só a Vila Madalena poderia proporcionar. Ele vive e vivencia a Vila desde a década de 1970 quando estudava História na USP e morou em diversos endereços pelo bairro. A conversa aconteceu na Oficina Beth Lima, no edifício projetado pelos arquitetos Roberto Pompéia e Marcos Gabriel a partir da idéia da própria artista.
Como surgiu esse evento?
O nosso grupo de artistas e interessados sabia que precisávamos fazer alguma coisa nesse sentido. Aí resolvi tomar a dianteira e fazer o evento. Na primeira edição, tivemos 35 artistas. Foi bom.
A experiência de anos de Vila lhe permite fazer uma análise do panorama artístico daqui. Fale sobre isso.
Na verdade, temos várias modificações aqui. Hoje, já não é mais aquele bairro de estudantes, como era. Naquela época, era basicamente formada por estudantes e trabalhadores, como os funcionários do Hospital das Clínicas. Os estudantes foram se formando, muito foram se transformando em artistas e foram ficando por aqui. Temos cineastas, músicos, pintores, artesãos. Durante a década de 1980, aconteceu uma certa descaracterização do local. Mais precisamente entre o final da década de 1980 e o início dos anos 1990. É quando acontece um boom de danceterias, acompanhada por uma massa de pessoas que tomaram as ruas da Vila de uma forma impressionante. Era impossível se locomover ou fazer alguma coisa por aqui. No final da década de 1990, as danceterias faliram ou se mudaram para outros bairros. E com isso, aqueles antigos moradores, muitos artistas, que haviam se retraído por causa daquela ocupação, voltaram. Foi nessa época, em 2000, que nós começamos a aventar a questão da “Arte da Vila”. Era um movimento para retomar os nossos passos. E em 2002 fizemos a primeira edição do evento. Nesse primeiro ano, fizemos dois eventos. E de lá para cá, temos feito anualmente uma edição.
Na edição 2008, quantos serão os artistas que irão participar?
Serão uns 60 ou mais.
Como é o processo de escolha dos artistas que participam do evento?
A inscrição é através do site. O artista envia para nós. Para participar, levamos em consideração três quesitos. Primeiro, o ateliê deve estar na Vila; segundo, o artista deve viver do seu trabalho, e terceiro, ele (o artista) deve ter peças assinadas, com valor artístico.
E a participação do público, como acontece?
É muito boa. É um passeio cultural. A principal característica é o despreendimento. Pegam o mapinha e saem passeando pelas ruas. É um final de semana muito especial porque tem muita gente pelas ruas.
Qual é o resultado, além do financeiro, para os artistas?
É muito variado, mas sempre existe a possibilidade de se fechar alguns negócios. O principal é a divulgação do seu trabalho.
Para aquele público não acostumado a freqüentar ateliês, esse tipo de evento ajuda a formar público?
Tem duas coisas muito especiais. A relação direta entre o artista e o público. Em geral, o artista está fechado em seu ateliê, fazendo seu trabalho de criação. Dificilmente ele tem um contato mais direto com o público consumidor. No “Arte”, ele conversa com o público e há uma interação muito grande entre eles. Na verdade, há uma troca.
A cada ano, um artista é quem cria o cartaz do evento. Quem será este ano?
Um dos artistas faz a arte. Este ano quem está fazendo o cartaz é o Gizé.
Quantos artistas há atualmente aqui na Vila?
Hoje, com certeza, são mais de cem ateliês. Mas aqueles que participam efetivamente, o número gira em torno de 60.
E o número de artistas e ateliê cresce a cada ano?
Tem sempre gente saindo e gente entrando. Isso não pára.
O evento é patrocinado?
Todo ano o evento tem um patrocinador. Neste ano, serão: a cerveja Original e o cartão de crédito Visa. São os mesmos do ano passado.
A logística é muito complexa?
Na verdade é muito simples. Basicamente faço o mapa dos ateliês que participam da “Arte da Vila”. São 70 mil mapas que serão distribuídos para o público. Teremos umas oito vans que ficarão rodando pelas ruas da Vila transportando os visitantes. O ponto de partida delas será no Metrô Vila Madalena. Teremos três roteiros diferentes. Neste ano o pessoal da Avenida Nazaré Paulista também vai participar. Algumas vans vão para lá e outras vêm para cá.
E como o público vai usar esse meio de transporte?
As vans vão parar em todos os ateliês. Na frente do ateliê a pessoa embarca, desembarca quantas vezes quiser. Todos os ateliês vão receber um banner, identificando o ateliê.
E o comércio (bares, restaurantes, lojas) acaba recebendo um movimento maior?
Todo mundo abre suas casas e recebe muita gente. Os eventos diurnos aqui na Vila atraem poucas pessoas. Nossa estimativa é receber dez mil pessoas entre esses dois dias.
Então o negócio é torcer para não chover?
Felizmente, até hoje nunca tivemos chuva.
É um evento para toda a família, crianças inclusive?
Sim, para os dois públicos. Existem vários ateliês com atividades específicas para as crianças. Os pais vão poder deixar as crianças e passear pelos ateliês tranqüilamente.
No ano passado, o “Arte da Vila” tinha o tema da reciclagem. Cada ano se escolhe um tema?
Não. A Original está propondo a reciclagem do material deles. E temos muitos ateliês que trabalham com produtos reciclados.
Você e a Beth Lima estão finalizando a edição de um livro sobre artesãos brasileiros. Fale sobre isso.
Foi um trabalho de quatro anos. É um levantamento de quem são os artesãos do Brasil. Viajamos por todo o país, eu e a Beth, minha mulher. Visitamos 320 artesãos nos 27 Estados e no Distrito Federal. O título do livro é “Em Nome do Autor”.
Será vendido? Onde?
A maior parte será doada. Mil exemplares serão vendidos em livrarias.
Como foi feito o trabalho?
Na verdade, reunimos um depoimento do artista que revela como faz o trabalho e seu processo de criação.
Como foi dividido o trabalho?
A Beth cuidou do texto e eu fotografei os artistas e as peças.
E de que maneira vocês chegavam até os artistas?
Nós usamos duas coisas. Antes, fizemos uma pesquisa aqui. Mas a descoberta acontece mesmo é na região visitada. Às vezes, o artista já estava morto e muita gente não sabia. No local, a gente fez um levantamento para saber quem eram eles. Nosso foco foram os artistas vivos e em produção. E fomos descobrindo muitos pelo País. O livro tem quase 500 páginas.
Quais os Estados que reúnem o maior número de artistas?
Minas Gerais e Pernambuco.
E como vocês separaram os verdadeiros artistas dos outros?
A Beth foi fundamental nisso. Ela, com a experiência que tem, percebia se o sujeito era ou não um verdadeiro artista. No livro, informamos quem são, o que fazem e onde estão.
E quando será o lançamento?
Deve acontecer em abril ou maio. Aqui na Vila farei um lançamento. Ainda preciso definir o local. É um momento das pessoas pensarem na sua própria cultura. O brasileiro ainda tem receio de se posicionar com sua própria história. Ele não se reconhece. Darcy Ribeiro citou isso. O brasileiro é um povo em formação.
Guia da Vila terá edição especial
O Guia da Vila terá uma edição especial dedicado ao Arte da Vila. Será distribuído uma semana antes e durante o evento.
Que têm interesse em promover atividades ou promoções durante o evento para entrar em contato pelo telefone 3874-5531 ou 3874-5532, com Silvana ou Fátima ou pelo e-mail vendas@guiadavila. O fechamento desta edição especial será no dia 24 de março.