O multiplicador de imagens

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Para ele, o trabalho fotográfico nasce como se fosse um texto. “Quando se olha pelo visor, antes de ‘clicar’, é como estar diante de um papel em branco que espera pelo texto. Todas as informações ali contidas colaboram para que uma intenção seja explicitada. Talvez, as leituras posteriores desta imagem percebam outras possibilidades de sentido, mas, seguramente, uma delas será a pretendida pelo fotógrafo”, explica.
Segundo Paulo, os elementos que constituem uma imagem são como aqueles que constituem um texto: “Você encontrará um sujeito, um predicado, os adjuntos, etc. Para tanto, creio ser válido o uso de todas as possibilidades: encontrar a imagem pretendida em meio a realidade, construir cenários para fazer esta realidade existir para tornar-se imagem, manipulações de laboratório, interferências as mais variadas no material sensível, o uso das possibilidades digitais, etc”. Paulo acrescenta que sempre teve a necessidade de encontrar uma maneira de “construir” uma imagem, decidindo cada um dos elementos que dela fariam parte. Diz que para ele sempre foi muito forte “a sensação de construção no momento em que fotografa, de manipulação da imagem escrevendo um texto ao fotografar, sem entrar na manipulação de laboratório”. Ele esclarece que não é “manipulação como alteração, mas como processo de escolha”.
As intenções para chegar às imagens têm as mais diversas origens. “Há predominância nas idéias surgidas a partir da leitura de algum texto, da leitura que faço de alguma imagem, fotográfica ou não, das conversas que mantinha com um professor e grande amigo que tive e que muito me influenciou em meu trabalho: Kanichi Sato. Há um estímulo que me faz ‘ver’ uma idéia que pode ser viabilizada na forma de imagem”. Paulo acrescenta que há a possibilidade de buscar a imagem na realidade: “Seria a fotografia mais ‘pura’ digamos assim”.
Com o advento digital, Paulo passou a digitalizar os elementos que antes utilizava na construção das imagens analógicas. Usei o scanner como o principal elemento de captação. Passei a constituir um banco de imagens de texturas as mais variadas, que serviriam como elementos para a construção de futuras imagens”.
A primeira coleção feita pelo fotógrafo foi uma série sobre o poema “O Guardador de Rebanhos” de Fernando Pessoa, por Alberto Caeiro, a qual chamou de “O Guardador”. “Foi uma série de 18 imagens. O gancho era um trecho do poema em que ele diz preferir o vôo da ave que passa e não deixa rastro ao do animal que deixa sua pegada que de nada nos serve. Se para fotografar é necessário algo diante da lente, como fotografar o que passou e não deixou marcas de sua passagem?. O programa me permite sumir com os elementos da imagem, mescla-los com maior precisão aos outros que a compõe. Usei o computador de que dispunha, nem me lembro qual, apenas que a cada comando podia ir fazer um café, em função do tempo que demorava em processar minha solicitação. Demorei uns dois anos para dar a série por encerrada”.
Depois desta coleção, o fotógrafo percebeu que poderia oferecer o procedimento de trabalho que utilizava como uma possibilidade de ilustração profissional. “Nunca tentei ser um ilustrador clássico, valendo-me do recurso digital. Os filtros disponíveis em qualquer programa destes, por melhor que sejam não substituem a habilidade do traço criado pelo homem. Trabalhando desta maneira fiz alguns trabalhos dos quais destacaria: dois cadernos feitos para Fundação Vale do Rio Doce, a colaboração durante três anos com a Revista Bons Fluidos, da Editora Abril, e uma capa para a Editora Ática do livro de Augusto dos Anjos, ‘O Eu e outros poemas’, conta.
Hoje, Paulo Gil, que mora na Vila Madalena, trabalha como ilustrador e fotógrafo. Para conhecer melhor seu trabalho, acesse o site www.paulogil. com.br.

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