Olho o céu da Vila Madalena de um ângulo possível, nesta cadeira sentado, numa mesinha da calçada do Bar Empanadas. A luz do fim de tarde é naturalmente cinza, mas hoje está desconcertantemente mais chumbo do que antes se viu. Mineiro me esclarece, com sabedoria insuspeita, que essas nuances estão mais na alma do observador do que na cor real do objeto notado. Entendi logo o recado. Eu é que estava, com a minha tristeza, emprestando ao poente uma tonalidade mais pesada. Imediatamente, percebendo o meu desconforto, ele contou uma histoória, que não consigo repetir direito, de uma moça que lhe pareceu muito linda, e que no outro dia era um terror, e tal, exemplificando sua tese.
Fiz que entendi e voltei às minhas maquinações. Por que então essa tristeza? Uma voz lá no fundo respondeu: ”É a crise do País que está mexendo com você”. Puxa! Justamente eu que não me canso nunca de professar o otimismo, de minha crença no Brasil, ser atingido traiçoeiramente dessa maneira! Confesso que não vejo por onde entrou esse micróbio na minha alma. Tento descobrir sem êxito, o instante e o que me contaminou, mas reconheço: ESTOU TRISTE.
Alguém observa, com propriedade, que já tinha confessado, aqui mesmo nesta crônica, que no mês de agosto tudo de mau acontece. É uma tábua de salvação e tanto, pensei. Como não ter lembrado em momento algum dessa verdade cristalina. Agosto não é apenas um mês. É um agouro desorganizando a vida de todo mundo. O governo quase caiu todo. O Corinthians foi pro quarto lugar. E muitos hotéis de pobres em Paris incendiaram. Mesmo os EUA, tão impávidos, receberam a visita destruidora do Katrina, esclarecendo definitivamente que agosto é perverso com o mundo todo, não só aqui. Então me inscrevo como mais uma vítima desse Tsunami temporal.
Ainda bem que entramos em setembro. Nada é mais esperançoso. Tem aquela coisa meio marota de mês das flores e tal. “A primavera é uma estação florida”, cantava a gente desde pequenininho na escola. Mas a realidade é que precisamos muito deste mês para traçarmos os horizontes futuros. Contabilizarmos nossas perdas e o que sobrou de tudo fazendo um balanço geral. Quanto à crise brasileira, não se iludam: ao puxarmos o extrato dessa conta, podem me cobrar depois… O extrato será vermelho.