O choro da incompreensão

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Uma amiga, muito querida, me disse estar bastante deprimida diante de tudo. Essa afirmação, por si só, denuncia um grande erro de análise. Ninguém, nem o Super-homem pode sentir-se assim. A vida tem muitas faces, disse-lhe, tentando mostrar o gigantesco equívoco que é achar que está tudo errado. Ela retrucou dizendo: “Veja o País como está”. E eu lhe disse: “Tudo bem, e o que mais?”. Aí teve um papo meio conceitual, se eu achava pouco ter um País assim. Disse que não, e tal, sem querer entrar na discussão política.
Puxando o assunto para vários outros temas, todos com a mesma abordagem, ela chegou ao nosso pedaço. “Veja a Vila Madalena. Eu sempre trabalhei pelo meu bairro. Sonhei que um dia teríamos condições melhores, e olhe o que aconteceu”. Não consigo achar onde pioramos, disse. Pelo contrário. Melhoramos muito. Criamos para São Paulo um referencial de desenvolvimento cultural e econômico, inserindo nossa sociedade no discurso do século 21. Ela ficou estarrecida com a minha argumentação, marcadamente emotiva. E continuei relembrando as dificuldades que tínhamos para nos encontrar. Lembrei-lhe do bar “Flor do Pinho”, na Fradique, já chegando a Teodoro, que era a única opção. Disse-lhe que além das coisas que fazemos no Centro Cultural, uma casa aberta a agitos há quase 20 anos, que ela observasse o trabalho do Gilberto Dimenstein, com o seu “Cidade Escola Aprendiz”. Que visse o “Brincante”, do Nóbrega; a quantidade de ateliês, as oficinas de artesanato e design. Respirei fundo observando seu rosto entristecido, quase me desculpando, para retomar o tom carinhoso da nossa conversa.
Há uma incompreensão muito grande com o desenrolar das coisas. Não podemos ser nostálgicos pelas frustrações que os sonhos geram. Nem o “sonhei o sonho errado” do Gabeira, se aplica a tudo. Temos que ver a realidade com absoluta isenção, para fazermos a crítica, para compreendê-la, e não sofrer pelo que não entendemos.

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