Kelly Monteiro
De menino pobre à artista plástico, o sonho mais uma vez supera a realidade e (re)nasce D’Ollynda, ou melhor, Jorge Luiz Gomes da Silva. Órfão de pai e mãe, ele trabalhou até os 14 anos como descarregador de caminhão em Pernambuco e depois na Bahia. Foi lá que descobriu seu talento de artista plástico: uma dançarina de Angola foi a musa inspiradora e quem lhe deu a primeira chance foi Mestre Palito, escultor e conhecedor da cultura afro. O resto do caminho foi com ele.
D’Ollynda chegou em São Paulo em 1998, diretamente na Vila Madalena. As noites black do bar Brancaleone e os muros da Vila e do morro do Querosene foram cenários para suas produções artísticas. E é para celebrar seus 25 anos de trajetória artística, D’Ollynda realiza a exposição “Naïf Brasil Viva Cores”, onde retrata as tonalidades e os costumes do povo brasileiro, sua cultura e sua fé, na galeria Território Brasil.
Nas 20 telas, o artista retrata as cidades pelas quais passou desde que saiu de Pernambuco: de São Paulo à Paraty, os detalhes são impressionantes pela sutileza. “Eu estava morando em Paraty quando resolvi fazer esta exposição. Queria mostrar os lugares por onde andei, desde Olinda, que eu lembro muito pouco, passando por Salvador, São Paulo, Minas, pelo Rio… Nada mais justo do que retratar esses lugares. De repente, em um mesmo quadro, você pode encontrar o Masp e o Farol da Barra, por exemplo”, diz.
D’Ollynda traz da sua memória e dos seus sonhos genuínos uma visão de vida feliz, tropical e paradisíaca, uma proposta de convivência lúdica, fraterna e igualitária. Com a arquitetura do Pelourinho, com a mística do candomblé, com o som do berimbau, desenrola-se a vida cotidiana do povo brasileiro nas praças e praias de anônimas cidadezinhas. O Brasil resplandece na sua luz acolhedora às margens do mar e das cachoeiras, das matas e dos campos preparados, num dia de domingo, a dança, a capoeira, a estética, a graça. A natureza é abundante, as palmeiras são nobres e é alegre e harmonioso o movimento do povo. Num misto de técnicas, cuja base é a pintura no estilo Naïf, o artista traz também colagens com materiais de origens diferentes. Com cores vibrantes expressa o seu sonho para um novo padrão social. “D’Ollynda é um artista ora interessado na cultura de raízes negras, ora interessado no ‘frenesi’ urbano, apresentando uma paisagem onde ele inclui cores, ritmos, luz e movimento”, avalia Emanoel Araújo, diretor e curador do Museu AfroBrasil.
D’Ollynda participou do projeto Almas Paulistas 2, uma coletiva de artistas plástica sobre São Paulo, organizada pela Anima Cultural. A mostra foi publicada pela Abooks Editora em 2002. Já teve mostra e exposição em vários paises, como França, Argentina, Itália, etc. Quando foram lançados os cartões da Telefônica, em 2000, três trabalhos de D’ Ollynda foram selecionados e distribuídos 3 milhões de cada. E ele já está pensando no próximo trabalho, uma exposição baseada no livro “O Povo Brasileiro”, de Darcy Ribeiro. Vale esperar!