A secretária executiva Fernanda Karina Somaggio, 32 anos, virou notícia nos jornais desde que denunciou seu ex-patrão, o empresário Marcos Valério de Souza, proprietário da agência de publicidade SMP&B, por corrupção. Primeiro em entrevistas à imprensa e depois em depoimentos ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Karina afirmou que havia um amplo trânsito de “malas de dinheiro” na agência de publicidade onde trabalhou entre 2003 e 2004 e que seu ex-patrão mantinha freqüentes contatos com parlamentares de Brasília bem como o secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores (PT), Delúbio Soares. Marcos Valério foi apontado como um dos operadores do “mensalão”, um suposto esquema de pagamentos feitos pelo governo a parlamentares da base aliada. Karina, assim como o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), foram as principais fontes de acusação contra Valério na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a CPI do Mensalão.
Nascida em Mococa, interior do Estado, a ex-secretária está chegando à São Paulo, mais especificamente em Pinheiros, bairro que escolheu para morar. Casada há dez anos e mãe de uma menina de nove anos, Karina conta, nesta entrevista, o que a levou a denunciar Marcos Valério e a se envolver na política: ela será candidata a deputada federal pelo PMDB.
O que te levou a fazer as denúncias contra o publicitário Marcos Valério e o esquema de corrupção?
Patriotismo. O primeiro de tudo foi patriotismo. Eu quero um País melhor para a minha filha. Acho que já chegamos no limite, não dá mais para agüentar corrupção. Isso foi primordial. Já morei fora do Brasil e é possível ver a realidade de países onde a corrupção é muito menor. A gente não pode negar que a corrupção existe em todos os países do mundo, mas em muitos deles é bem menor. Existem leis que são rígidas e o Estado realmente é presente, assiste as pessoas. E aqui chegamos no limite. Pagamos 40% de tudo que ganhamos em impostos e não temos nada em troca. Pagamos transporte, educação e saúde porque o governo não nos dá isso. Estamos cheios e temos que parar de ser coniventes com a corrupção. Acompanhei tudo que todo mundo já sabe. Era a rotina de uma empresa de propaganda e marketing, super corrido. Entrava e não tinha hora para sair, trabalhávamos, nem sempre na empresa, mas aos sábados, domingos e feriados. Era essa a rotina. As provas foram chegando até mim. Por exemplo, a agenda que eu entreguei na CPI era a minha agenda. Nela, havia toda a rotina da agência. As reuniões que eles tinham com os políticos do PT, onde era, quem ia e quem não ia.
Segundo entrevista publicada na revista Isto É, você exigiu dinheiro para não revelar as informações. É verdade?
Isso não é real. Mesmo porque não é do meu caráter fazer isso. Uma pessoa que realmente ama o País em que vive, eu sou 100% Brasil, por mim aqui seria a maior maravilha do mundo, nunca faria isso. O processo que Marcos Valério colocou contra mim foi única e exclusivamente para me colocar medo. Ele grampeou meu telefone, colocou gente atrás de mim, ligava para a minha filha dizendo para que ela tomasse conta da mãe dela. Ele fazia esse tipo de coisa, mas não me acanhou.
Você sentiu medo?
Muito. Tenho medo até hoje, claro. A gente nunca sabe o que pode passar na cabeça das pessoas, não sabemos até aonde vai a loucura. A minha vida, hoje, é toda regrada. Todo mundo sabe aonde vou, com quem estou, a que horas saio e a que horas chego. A minha filha é monitorada.
Você era petista e agora vai ser candidata à deputada pelo PMDB. Como se deu essa mudança?
[risos] Não tem mais jeito de ser petista, não é? Muita gente da minha idade não é mais petista. O PMDB, apesar de ter sido fundado por vários partidos, é totalmente de centro, o que combina com o meu caráter: sentar, conversar e negociar. Esse é o meu jeito. E é um partido que está me acolhendo muito bem, que me ajuda quando tenho dúvidas, estão sendo muito receptivos comigo. Acho que está valendo a pena porque não é um partido extremamente de direita e nem extremamente de esquerda. E é um partido que está me deixando ser quem eu sou, a Karina que quer um País melhor. Sem ter que ser discidente, sem ter que fazer exatamente o que o partido quer. O PMDB é um partido onde as pessoas discutem.
Você tem alguma formação política?
Tenho. Eu sou filha de professor universitário, meu pai é biólogo. A minha família sempre foi politizada. Muito antes de tudo isso acontecer, sempre lia todos os jornais e revistas; na internet sempre entrei em todos os sites de jornais do mundo. Sempre me preocupei com o que está acontecendo, tenho opiniões formadas e sei opinar com subsídio, sabendo exatamente o que está acontecendo.
Qual sua visão sobre a política, hoje, no Brasil, principalmente quanto às CPI’s?
A CPI do Mensalão nasceu morta, isso já sabíamos. Mas a CPI dos Correios, por exemplo, está em fase de investigação, de detalhamento de papéis. Como já estive lá, me aproximei de muitos senadores e deputados. Eu ligo para saber como está. Agora é a fase de investigação porque eles não podem simplesmente acusar. Para você acusar é preciso ter provas. Eles estão juntando essas provas, sabemos que serão aproximadamente 50 pessoas indiciadas porque na verdade a CPI não tem poder jurídico, tem apenas poder político. Eles precisam passar as provas para o Judiciário para, justamente, não haver os problemas que aconteceram com o deputado José Dirceu, de recorrer e ficar eternamente pendurado. É isso que eles querem e tenho certeza absoluta de que não vai acabar em pizza mesmo porque eles sabem que a população não vai aceitar. Só está onde está porque a população está mais consciente, além de estar cansada de ver muita gente ganhando dinheiro e 90% ficar ralando.
O que pretende fazer se for eleita deputada?
Pretendo plantar uma semente. Como eu já disse, quero um País melhor. A primeira coisa que tem que acontecer no Congresso Nacional e no Senado é a renovação. É preciso tirar as pessoas que estão lá há muito tempo e que já conhecem o esquema de corrupção. É preciso colcar pessoas novas porque não adianta você estar lá sendo comandado por pessoas que já participaram de esquemas de corrupção. Os jovens têm que começar a pensar que política é coisa séria. Infelizmente, ou felizmente, não sei, a gente depende de política para tudo. Mesmo pela minha história, acho que será muito difícil alguém tentar me corromper. Esse não é o meu perfil. Se fosse para eu ser corrompida, teria sido há muito tempo. Quero entrar na política para somar. Sei como é difícil trabalhar e chegar ao final do mês e quase não sobrar nada. Sou consciente das coisas e sei que serei cobrada. Tenho certeza de que não vou deixar a desejar e quero um País melhor para a minha filha e para todo mundo.
E a história de que você posaria nua para financiar a sua campanha?
[risos] Na verdade, não foi nada disso. Apesar de achar que não há nada de errado, essa nunca foi minha idéia. E a mídia alimentou muito. Mas nunca foi a minha intenção. O que aconteceu foi que, um dia, conversando com um jornalista, saiu essa idéia, de que eu posaria nua para financiar a campanha. Mas não faz parte do meu perfil. É um trabalho lindo, mas para pessoas do meio artístico.
Politicamente, qual será a sua contribuição para a comunidade da Vila Madalena e Pinheiros?
Pretendo trabalhar muito pela comunidade e como estamos começando a planejar o que fazer, acho prematuro falar agora. Estamos colhendo dados e no começo do ano que vem teremos um projeto, uma base sólida para trabalhar.