Continuidade de um caso

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Esta coluna, que completa sete anos neste mês de fevereiro, se propõe a analisar problemas relacionados aos animais em geral, seus direitos, noticiar sobre o assunto e orientar os leitores quanto a atitudes que eles podem tomar diante de casos de animais maltratados. Os leitores assíduos já conhecem seu perfil. A partir da criação do site www. guiadavila.com temos recebido retorno de outros estados, inclusive pedidos para reprodução de artigos. Há poucos dias recebemos um e-mail de Carolina, uma leitora e arquiteta, pedindo para acompanharmos o desenrolar do caso da Djalma Coelho.

Na edição de janeiro passado reproduzimos a denúncia feita por uma jovem, fato grave, já que um animal atropelado, segundo ela, havia sido sacrificado de forma cruel pelo seu dono. Baseada no seu relato fiz, como usualmente, considerações relacionadas ao assunto: o perigo de animais que são soltos nas ruas pelos donos; o silêncio que cerca os casos de crimes contra animais e a conseqüente impunidade; o exemplo que pais dão aos filhos ao lidar com seres mais fracos. No caso em foco, a jovem disse que o veterinário que fora chamado para atender o animal ferido se indignara com o ato do dono do animal e afirmara que “isso não pode ficar assim. Vou à delegacia fazer um BO”. Acrescentou ainda que “ele saiu revoltado”. Eu quis confirmar o fato, mas soube pela jovem que ele estava viajando e só voltaria depois do Ano Novo.
O Guia da Vila é uma revista do bairro, foi no bairro que aconteceu o provável crime, na semana que antecede a do Natal, embora eu só viesse a receber a denúncia na semana seguinte. Entre noticiar o fato, mesmo sem confirmação do BO (boletim de ocorrência) – e perder a atualidade da notícia, optei por publicá-la. A moça estava evidentemente chocada com o acontecido, não havia motivos para duvidar das partes mais importantes do seu relato. Temos limite de espaço. Ao escrever temos que fazer escolhas. Ela pediu-me para não divulgar o seu nome. Compreendi suas razões e a orientei para que ela e os vizinhos ficassem atentos ao desenrolar do inquérito e que, quando a matéria saísse, fosse levada – por quem acompanhasse o caso – ao delegado responsável. É sempre útil a presença da imprensa, mesmo a de um órgão de bairro. Reafirmei minha intenção de entrevistar o veterinário quando ele voltasse de viagem.
Após a publicação da matéria tive uma segunda conversa com a moça. Queria saber o que acontecera desde então. Para surpresa minha, constatei que ela apenas “achava” que havia sido feito o BO. Procurei por outras vias conversar com o veterinário. Mas só dias depois, já que a minha fonte dissera que ele continuava fora. Consegui falar com a irmã dele. Não foi feito o BO, nem será, ela declarou. Confirmou a viagem do irmão, a morte do cachorro e que a Polícia foi chamada. Porém, depois que as cabeças esfriaram, falou, decidiram que era melhor “deixar pra lá”, e que eu fizesse o mesmo. Disse-lhe que eu teria, por obrigação moral e profissional, de escrever um desmentido sobre a prestação da queixa. Indagada, respondeu que nunca reparou se o dono do cachorro era portador de alguma deficiência física. No dia seguinte recebi um telefonema da mãe do veterinário. Disse que a família não viu nada. Diante das colocações que fiz, respondeu que apenas foi ouvida a confusão e que o filho “foi até lá para atender o animal a pedido, bateu, não foi recebido e voltou pra casa”. Acrescentou que da casa dela não foi feita nenhuma chamada para a Polícia. Mora no mesmo local há dezesseis anos. Não se envolve com vizinhos e, por isso mesmo, não sabe o nome deles. Não quis declarar o sobrenome.

Lamento meu equívoco causado por um outro quanto ao BO. Lamento a morte presumivelmente cruel, e certamente triste deste animal. Não sabem o seu nome. Não disseram o nome do dono. Não haverá inquérito por falta de prestação de queixa, de testemunho e das chamadas “provas materiais”. Não podemos nos queixar da sociedade que construímos.

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