As marcas de 10 anos

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Nesta edição comemorativa dos 10 anos do Guia da Vila Madalena, dez pessoas que acompanharam a história do bairro avaliaram as mudanças positivas e negativas pelas quais passou a Vila nos últimos dez anos.
Também foi pedido que citassem os locais preferidos para comer e beber, para comprar e passear. Confira as dicas dadas por eles e um texto especial (ao lado) do jornalista Enio Squeff.

Não sei se posso elencar dez razões a favor ou contra a Vila, exatamente dez. Mas a Vila evidentemente é menos freqüentável para senhores da minha idade que sonham menos com a badalação do que com tranqüilidade de um copo à frente e muito pouco barulho atrás. O crescimento do comércio, principalmente à noite, cumpre na Vila o que lhe é correlato e que nasceu com a sua vocação de ser um bairro boêmio, propício aos encontros, às libações e que tais. Por aí se explica tanto minhas restrições quanto ao entusiasmo, principalmente dos jovens. A esses interessa justamente o que me incomoda. Mas isso não se dá sempre, todos os dias e a toda hora. A feira livre da Vila, por exemplo, tem um encanto que me obriga a diferenciá-la pelo que, à primeira vista, é de todas as feiras do tipo, mas que na Vila tem um sabor especial, não só de verduras, de frutas ou de pastéis. Falo dos encontros dos senhores e senhoras a partir do meio-dia, na esquina da Mourato com a Aspicuelta, ao redor de cervejas, mas não raro de pastéis, tapiocas e muitas conversas; ali bebemos, rimos, discutimos e cuidamos de celebrar os velhos tempos. E, não raro, com combinações que repetem o que foi a Vila de outros tempos: na época, as festas começavam durante o dia e se estendiam noite afora na casa de um ou de outro. Só por aí creio ter bons motivos para ainda gostar da Vila e mais de dia do que de noite. Mas a Vila, eu a freqüento também à noite e muitas vezes no Empanadas quando um certo pudor me impede de entrar em qualquer outra boteco, para fazer um lanche. Entre devorar um fast food qualquer – um indefectível cheese burguer ou hambúrguer – eu obviamente sempre busco uma empanada. Digamos que se trata de uma espécie de fidelidade à Vila. O bar das Empanadas foi quem lhe deu o começo. Diria mesmo que a Vila tem também um sabor de empanadas, que foram elas, afinal, que a tornaram menos convencional, menos óbvia em comparação com outros bares em outros pontos da nossa cidade. Há, porém o Soteropolitano e este é o único que eu freqüento quando me proponho a sair de meu ateliê. Não vou cantá-lo com a prosa e o verso que ele merece. Trata-se seguramente de um dos melhores restaurante de São Paulo que tem no Júlio Valverde, não apenas um amigo, mas um maître consumado. Teria de aduzir, que nos encontros da Confraria Soteropo-litana – uma celebração de gourmets que uma vez por mês degustam algumas das melhores invenções do Júlio (e ele se solta deliciosamente bem nessas tertúlias) – há muito mais do que qualquer assembléia em que comemoramos a vida. Ouvimos música de qualidade, discutimos a política e a vida do País como se fôssemos o centro do mundo. E realmente, no momento em que o Júlio escancara seu talento em pratos memoráveis, não há como não sentir a Vila como um momento especial na história – um momento que se faz história justamente por ser parte da vida de cada paladar, de cada memória degustativa. Enfim, é esta para mim, a Vila Madalena. Abomina-me na barulheira, nas brigas, na grosseria dos carros em mão dupla, no sujeito que berra nas ruas a sua bebedeira ou sei lá mais o quê. Mas é o contraponto. Logo no sábado seguinte há a feira livre pela manhã, com os amigos, a cerveja, a conversa amena. Amém.


Enio Squeff é escritor e artista plástico. Mora no bairro e, em 2002, ilustrou e escreveu, como parte da coleção Paulicéia, “Vila Madalena, Crônica Histórica e sentimental”, publicado pela Boitempo editora.

Especial 1

Gilberto Dimenstein, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, comentarista da TV Futura e da rádio CBN, foi o idealizador e hoje é presidente da Cidade Escola Aprendiz.

+ As escolas públicas como o Olavo Pezzotti e o Zilda de Franchesci estão entre as melhores públicas municipais de São Paulo. O Carlos Maximiliano se transforma num centro cultural. A proximidade com o Sesc Pinheiros; a proximidade com o Centro Cultural Tomie Ohtake; a Livraria da Vila; os serviços 24 horas de padaria (Villa Grano); a ampliação dos grafites para todo o bairro; a abertura dos ateliês uma vez por ano; o acesso a transportes públicos por causa do Metrô; os cuidados com as praças e a transformação do cemitério São Paulo em galeria de arte.

O trânsito; a sujeira; bares com jeito de Vila Olímpia e Itaim; preço dos aluguéis; lojas e restaurantes metidos a Jardins; a demolição daquelas casinhas típicas da Vila; o centro comercial no cruzamento da Wizard com a Harmonia; o barulho; o sujeito, o pioneiro dos bares; a violência.

Especial 2

José Luiz de França Penna, além de acompanhar o Guia da Vila desde sua primeira edição, é presidente do Centro Cultural Vila Madalena e idealizador da Feira da Vila, o mais tradicional evento do bairro.

+ O bom relacionamento entre as pessoas; o tipo moderno de gente que encontramos; a valorização da cultura e da arte, seus ateliês e oficinas; a variedade gastronômica; os cafés e bares; as cadeiras e mesas nas calçadas; o parque de prestação de serviços (oficinas mecânicas, marcenarias, etc.); o bairro-escola do Gilberto Dimenstein; o espaço do Antônio Nóbrega (Brincante); a Feira da Vila, o Centro Cultural e o mais elegante de todos os decanos que é o Guia da Vila.

A verticalização; a imensa frota de automóveis; a criminosa demolição das casinhas de inspiração portuguesa para construção de estacionamentos; a violência de toda cidade que nos circunda; o roubo de carros e celulares; o banimento da população original pela fúria da especulação imobiliária; a falta de áreas verdes; a falta de áreas esportivas e de lazer; a falta de equipamentos culturais (teatros,cinemas,etc.) e o barulho noturno.

Especial 3

Karen Workman é historiadora, idealizadora e diretora do Museu da Pessoa, que há 15 anos coleta e preserva histórias de vida.

+ Opções de cultura e ateliês; opções de lazer; Vila Madalena de Portas Abertas; restaurantes melhores; praças mais bem cuidadas, mais urbanizadas; número maior de ONG’s; árvores identificadas pelo projeto Viva Viva; chegada do Metrô; lojas temáticas (encadernação, moda) e serviços.

Casas derrubadas que viraram estacionamento; serviços de manobristas desordenados e agressivos; trânsito mais pesado; verticalização; perda de vida na rua, característica dos antigos moradores; a praça João Francisco Lisboa, perto de casa, fica ocupada por carros e sujeira dos bares; a rua Arapiraca, onde moro, perdeu tranqüilidade; aumentou o barulho.

Especial 4

Lúcio Leal é o fundador, com Jerusha Chang, do Espaço Luz, um local especialmente projetado para as práticas do Tai Chi Pai Lin.

Lembrando que o tai-chi é a união do yin-yang, positivo-negativo, homem-mulher, interno-externo, físico visível-energia vital invisível. Para os taoístas o 10 representa o todo: “as dez mil coisas”. Aí vão, cinco positivas e cinco negativas, dez na Vila.

+ Nascer do sol, tai-chi; sabiás, bem-te-vis, maritacas; plenitude do sol, Espaço Luz; ipês amarelos, íris azuis, primaveras vermelhas; morrer do sol, tai-chi.

Sinal verde, siga; ônibus, carros, estacionamentos; sinal amarelo, atenção; motos, helicópteros, aviões; sinal vermelho, pare.

Especial 5

Pedro Costa, cronista do Guia da Vila, é proprietário do Piratininga Bar, Pira Grill e Pira Sanduba, o trio mais chamoso da rua Wisard, no coração da Vila.

+ A Vila tornou-se um dos bairros de maior diversidade gastronômica, desde comidas francesas à pratos típicos regionais; a estrutura de prestação de serviços bancários e outros. Devido a sua projeção, a segurança do bairro melhorou; a estação de Metrô; a Vila se revelando como o bairro boêmio de São Paulo com projeção internacional; maior zelo da subprefeitura de Pinheiros à Vila Madalena; a consagração dos artistas da Vila nas diversas áreas culturais; o carinho e o atendimento dos taxistas aos turistas e aos freqüentadores da Vila Madalena; a criação de milhares de empregos pelos bares e restaurantes; e o Guia da Vila.

Bares que proliferam a esmo e funcionam até altas horas sem nenhum tratamento acústico; valet’s que estacionam seus carros pelas ruas e praças sem local próprio ou garagem própria para estacionarem; valet’s que ocupam porta de garagens de casas e prédio de moradores, causando buzinadas, brigas e congestionamentos pela Vila; manobristas que dirigem rápido demais e sem atenção pelas ruas do bairro; bares que ocupam calçadas por completo, não deixando o espaço para a passagem de pedestres, ultrapassando a metragem permitida para a ocupação de mesas e cadeiras; alguns donos de cachorros que ainda não recolhem as fezes de seus cães em seus passeios pela Vila; os buracos que a Congás abre e deixa de qualquer maneira sem refazê-los; ambulantes que se instalam com seus carros-lanche, produzindo lixos plásticos e orgânicos pelas ruas do bairro; a verticalização excessiva e a exploração imobiliária pelos preços exorbitantes dos imóveis não compatíveis com as características do bairro; projetos arquitetônicos que descaracterizam as casas e o conceito de vila.

Especial 6

Gilberto Oller, o Peninha, do Pitanga Espaço Gastronômico, restaurante de comida brasileira que também oferece espaço para exposições.

+ Qualidade nas ofertas em geral, o público e o profissionalismo no comércio.

Vendedores ambulantes de bebidas alcoólicas na madrugada.

Especial 7

Ramiro da Encarnação Ferreira Filho, proprietário do Sacolão da Vila, um dos pontos de encontro do bairro para quem quer comprar e comer bem.

+ O bairro criou identidade diferente, a oferta de produtos aumentou e houve crescimento de produtos artesanais.

Descaso da prefeitura com normas de estacionamento e um estudo adequado para a região, mudanças de moradores originários da região por causa da agitação, trânsito, descentralização de muita lojas e restaurantes; não se conseguiu criar centros gastronômicos e nem centros comerciais.

Especial 8

Hulda Bittencourt é diretora artística da Cisne Negro Companhia de Dança, criada em 1977 e considerada uma das melhores companhias contemporâneas do País.

+ O metrô, a Livraria da Vila, padarias de alto nível; lojas de comércio de renome, como Amor aos Pedaços, Blockbuster, TNG, Hering, McDonald’s, vários outlets; os restaurantes e bares, pela grande variedade, com boa qualidade; cafés charmosos; brechós e sebos; as exposições e o artesanato; áreas verdes importantes, como a Praça Pôr-do-Sol; a Fundação Tomie Otake, o Centro Britânico, a FNAC, o Senzala, restaurante que resiste ao tempo; o fato de o bairro ser ponto de encontro de intelectuais e artistas e as muitas histórias de freqüentadores da região; a Cisne Negro Cia. de Dança e o Estúdio de Ballet Cisne Negro, o Teatro Brincante (Antonio Nóbrega), o Forum da Vila Madalena e o Teatro Viga.

A interligação do metrô Vila Madalena só tem uma linha de ônibus que faz o trajeto Metrô – Cidade Universitária (Ponte Orca). Deveria ter pelo menos três linhas circulares que percorressem todos os pontos principais da Vila. Poucas linhas de ônibus do centro para algumas ruas estratégicas da Vila Madalena. O “escadão” do Metrô: ponto de assalto, com inúmeras vítimas que se utilizam desse meio de transporte. O trânsito engarrafado à noite, por causa dos diversos bares e estabelecimentos comerciais do bairro. A poluição sonora por causa do excesso de trânsito. Poucas escolas públicas de qualidade. Falta de história da Vila: deveria ter um livro com a história da fundação da Vila Madalena (muitos portugueses e outros que aqui chegaram, como meu pai). A Rua das Tabocas com mão dupla. Por ser uma rua com trânsito de ônibus e que abriga uma escola, a rua deveria ter mão única, desviando-se a outra mão para uma das ruas paralelas. A falta de segurança nas ruas da Vila Madalena, com ronda militar ostensiva, pois abriga escolas e muitas casas de alto padrão; falta de hotéis e cinemas; falta de cartórios e hospitais (tem somente um hospital: o Hospital Panamericano); falta de área de lazer para a comunidade; falta de restaurantes self-service com preços acessíveis. Praças abandonadas, com grande quantidade de lixo. A Vila Madalena é um bairro atípico: convivendo pacificamente casas de alto padrão e uma característica marcante do bairro: casas populares, com várias moradias num mesmo terreno, onde residem várias famílias.

Especial 9

Suzana Maria Pires e Albuquerque é proprietária do Depósito Santa Fé, uma loja de decoração que foi aberta há 13 anos na Vila Madalena.

+ Acho que desde que abrimos o Depósito Santa Fé na Vila Madalena, em 1994, as coisas só melhoraram por aqui. Hoje em dia há muitas lojas de design, galerias de arte, bons restaurantes, barzinhos divertidos e eventos que atraem moradores de outros bairros. Além disso, não havia Metrô na época, o que agora facilita muito a vida de todos. Em 1994 a Vila era apenas um bairro residencial, onde nada acontecia.

A única coisa que piorou foi o barulho dos bares, que vara a madrugada.

Especial 10

Luis Carlos Tokunaga já foi policial, impressionou como ator, mas é taxista, com ponto na rua Harmonia com Rodésia. Conhece a Vila Madalena como poucos, afinal, muitas das suas corridas são pelo bairro mesmo.

+ Para quem circula de carro pela Vila, o recapeamento do asfalto deixou as ruas em ótimo estado. A chegada da estação do Metrô e de várias agências bancárias deram uma boa movimentação ao bairro. A identificação das árvores é uma iniciativa genial e a poda das mesmas é sempre bem-vinda.

O trânsito agitado e a falta de semáforos em muitas ruas do bairro, principalmente na rua Wizard com a Girassol, acaba ocasionando um grande número de acidentes. As calçadas irregulares são outro problema pois dificultam a passagem das pessoas e ainda se tornam perigosas, sem falar na falta de estacionamentos no bairro.

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