A manutenção é a questão

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Fazer projetos factíveis é um desafio permanente, porque dos mirabolantes enchendo a paciência do mundo estamos fartos. A não ser dos tais malucos que cumprem a função do divertimento explícito. E é com satisfação que lembro de alguns deles ainda na minha adolescência, como um senhor na rua em que morávamos se dedicando ao sonho de Ícaro. Eram tardes inteiras com um precário binóculo, observando o vôo das aves marinhas, e a gente ali voando com ele na sua solidão. Dali para sua prancheta de fundo de quintal, refazendo, acrescentando formas às suas asas voadoras. Era uma grande folia. Mas ele não voou, diferente das suas asas que voaram sozinhas no meio de uma tempestade, danificando alguns telhados.
Os loucos, ou filósofos como prefere meu embaixador para assuntos planetários Horácio, cumprem essa função. Mas neste tempo especial em que vivemos, onde reinventar o mundo é uma necessidade premente, porque produzir industrialmente consumindo essa quantidade de energia, não dá mais. Produzir alimentos para seis bilhões de pessoas tratando a natureza da forma que estamos tratando é impossível. E tudo mais que vocês já estão carecas de saber. Não basta, e chamo a sua atenção, apenas bons projetos. Na minha infindável militância verde tive a oportunidade de conhecer uma extraordinária figura do PV, Natur Assis, que terminou barbaramente assassinado pelo prefeito da sua cidade, Ubaira, Bahia, que ensinava a todos: “O difícil não é criar as coisas, o duro é a manutenção”. Então ele cumprimentava seus pares perguntando: “E a manutenção?”.
Tivemos, no domingo, 26 de agosto, a 30ª Feira da Vila. Foi a prova de que São Paulo pode ser uma bela cidade. Fraternalmente passamos o dia reencontrando pessoas, vendo e ouvindo coisas lindas, revendo o Brasil com o tema deste ano “Xô Apagão”, o que me leva a dizer, após 30 anos de festa, que o gostoso é a manutenção.

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