Participei de uma plenária informal na cantina Romanesca, de onde sou cliente assíduohá quase 30 anos, uma noite dessas. O papo estava muito divertido e o assunto central era o frio. Cada um opinava livremente sobre sua sensação particular em relação ao fenômeno climático. “Eu adoro o frio”, dizia alguém mais convicto. Outros odiavam… Porém tudo com o humor jocoso característico de uma reunião entre amigos. Em dado momento apareceu um teórico, nessas horas sempre se revela algum tentando situar no tempo e espaço a onda de frio.”Vejam só como é a humanidade. Dias atrás fazia um calor desesperado em pleno inverno, e todo mundo falando de doenças causadas pela falta de umidade no ar, da poluição insuportável, do efeito terrível da estiagem sobre as plantas, e aí vem a chuva e o frio e a gente reclama de novo”.
É verdade… Criou-se um clima tão forte quanto o calor que fazia. Em todo o lugar era o assunto dominante. Nos jornais, nas rádios e na televisão somente comentários relativos a “quentura” do tempo.
“Sabe”, me chamava a atenção um participante ilustre. “Ficamos tão preocupados com o calor que a força do pensamento unido da gente mudou o tempo”. A força da mente, tá entendendo? Que coisa engraçada, pensei eu, uma pessoa se dedicar a relacionar temperatura ambiente com a mente coletiva pra tirar um sarro. Mas de todo modo não precisava ir tão fundo pra fazer um frio desses.
Aonde afinal deve agir essa tal energia mental coletiva? Nas atividades sociais e, portanto, políticas. Parece claro como água. E aí vem aquela pergunta: E por que não fazemos do Brasil um país melhor, já que temos tantas condições para isso? Um território continental como o nosso, que abriga uma diversidade climática, cultural e étnica, tem tudo a ver com um final feliz de história. No entanto não conseguimos alterar nada. Será porque as elites conservadoras trabalham em uma frente contrária e não querem que o mundo mude? Que elemento poderoso serve como instrumento dessa ação demolidora dos nobres propósitos? Reflito. Em seguida acho a mentira repetida na mídia como objeto de preocupação. É ou não é mentira que a polícia seja a única possibilidade de combate a violência? Não é mentira também que a miséria precise apenas da ajuda assistencialista de governos e de abastados? Isso para citar algumas que vivem a nos confundir diariamente.
A verdade, portanto, passa a ter importância fundamental nessa peleja, onde o nosso futuro é jogado, entre a mente e a mentira. A primeira nos transforma e a outra, paralisa.