Desfilamos no sábado de carnaval na Pérola Negra. Saímos do Sambódromo com a plena certeza de que havíamos emplacado mais uma, não como campeã, mas certos de que estávamos no páreo entre as melhores. No domingo cedo já estava com os pés no mar. Sambista fora do peso, acostumado com chinelo de dedo, escaldava o par dolorido pelo sapato de couro branco na salmoura natural.
Escrevo agora, após o resultado e a surpresa, de uma pequena “lan house” do litoral norte, entre Ubatuba e Paraty, ou melhor entre o Anhembi e a Sapucaí. Mais uma vez caímos. Está difícil levantar, deixar de boiar. Na minha cabeça ainda canta toda a Velha Guarda da escola, da qual faço parte com muito orgulho. Vejo o rosto de cada um, como um filme que não se esquece. Quem lida muito com emoção das coisas da vida vive quase sempre transbordado, tal qual os poetas, qualquer gota a mais que rola inaugura-se uma cachoeira dos olhos antes só mareados. Enquanto todos ali no alto do carro alegórico, os 40 senhores maravilhados cantando o enredo, a emoção na flor da pele e o coração no ritmo dos tamborins nos 40 anos da Pérola Negra. Cada um mais emocionado que o outro. Enquanto sorriam, choravam junto com a garoa, de baixo da gente pareciam sair dos nossos pés e mentes um linguarejo de cores, alegorias e alegria sambando na noite de garoa fina. Atrás dessa cortina que se formava, dava para ver uma plateia imensa debruçada na avenida que aplaudia intacta ao lado de holofotes de luz, enquanto tudo se movia em lenta harmonia e beleza. Ali estava a vitória, no todo, na altivez do belo, “no exemplo maior de comunidade”.
Na foto da Velha Guarda, que aqui estamos, Sandra, Peninha, Pasquale, Juarez, Joca e outros tantos amigos que durante o ano todo estiveram presentes na quadra. Tudo passa rápido, amigos, agora mais que nunca. O ano mal começou e já estamos nos meados de março. De novo vamos levantar e voltar, assim como é certo o dia após a noite. E por mais inesquecível que foi aquela noite, a certeza de que a Pérola foi campeã pra nós, apenas não acertamos o dia e entre os jurados nenhum viu nem ouviu o que presenciamos naquela avenida: o asfalto se arrepiar.
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