Ninguém escreveu ou me disse. Apenas observei. Aliás, todos perceberam, com clareza meridiana, que o ano próximo passado desafinou tanto o coral dos tempos que a nossa graça de viver perdeu o gás. Vejam que os belos reveillons, com seus fogos, o saldo record da balança comercial, foram como despedidas aliviando o nosso espírito diante de um ano pouco gratificante. Não sobrou nada para 2006. Nem as tradicionais e bem humoradas previsões aconteceram. Meus preferidos, Mãe Diná, Robério de Ogum e tantos outros que alegravam esses dias inicias a cada ano tiveram espaço no nosso imaginário agora.
Sei que é difícil começar assim um novo ano. Talvez, por isso, ninguém tenha entrado nesta conversa até o momento. Porém, quem tem os guias intelectuais que tenho, não pode deixar de tocar nestes assuntos, por mais melindrosos que sejam. O Edmundo, que vocês já conhecem de crônicas passadas, é o mais duro na cobrança: “Você tem o dever de falar com as pessoas sobre o bonde que perdemos no ano que passou. O capitalismo se mexe assim, através de bolhas, e essa foi generosa demais. E nós não tivemos capacidade de pegar uma rapinha dela”. Sentiram a pressão? Quem tem um guia desse vive perigosamente, mas com coerência.
Graças a Deus tenho essa capacidade de ouvir a colaboração de todos. Mesmo que não seja tão profundo e racional como Edmundo, ou tão pessoal e filosófico como o Mineiro. A propósito,Mineiro, pensador empírico de grande calado, entrou num processo de auto-análise devido às mudanças que foi obrigado a fazer para sobreviver. Roqueiro batizado em Iacanga (memoráveis festivais!), foi o chefe do cerimonial fúnebre do grande “Raul Seixas”, que partiu do Anhembi, num carro aberto dos bombeiros até o cemitério. Hoje, depois do desditoso ano, encontra-se como animador de um grupo carnavalesco que se reune embaixo de um viaduto da Sumaré, com um objetivo de aproximar-se das mocinhas da PUC. Vejam que até para os filósofos a idade é dureza. E elas devolvem a sua dedicação lhes dando o título de mestre. Mestre Mineiro. Para quem pousou de símbolo sexual nos anos setenta, essa de mestre é pior do que xingar a mãe, porque chama-lo de tio seria o trivial honroso.
Então, esta historia toda é para dizer que não teremos chance alguma em 2006? Não… Teremos a força transformadora de uma Copa do Mundo, vários feriados prolongados, e eleições e etc. Tudo pode melhorar. Tudo. Um ano mais velho.