Dia 26 de agosto a Vila Madalena sofreu uma grande perda: o advogado e escritor Antônio Ivo Pezzotti, 79 anos. Ele foi um dos primeiros moradores a se instalar no bairro e administrou por duas vezes a Regional de Pinheiros, fatos que deram-lhe subisídio para escrever o livro “Vila Madalena e suas figuras notáveis” um dos mais enriquecedores relatos feitos sobre o bairro e seus personagens.
A história de Antônio Ivo com a Vila Madalena começou em 1951, quando seu irmão Olavo foi designado como o primeiro vigário da paróquia Santa Maria Madalena e São Miguel Arcanjo, que reunia todos os esforços da comunidade visando o desenvolvimento do bairro. A primeira creche da Vila Madalena, na rua Harmonia; o primeiro Grupo Escolar, que tempos mais tarde recebeu seu nome; a fundação do Liceu Santa Madalena; o Ambulatório Médico Odontológico São Miguel e a Cooperativas de Consumo e de Crédito foram algumas das obras de Olavo e acompanhadas de perto por Ivo.
Nesta época, Antônio Ivo era seminarista. Faltando três anos para terminar o curso se encantou pelos olhos verdes de Lourdes, antiga moradora do bairro, que veio tornar-se sua esposa, dando-he três filhos e sete netos. “Ele entrava em desespero quando pensava que se ordenaria padre. Só entrou para o seminário porque não tinha recursos para estudar em outra escola e o curso proporcionava uma boa formação cultural. Aprendeu francês, italiano, grego, latim, teatro, música”, conta Ivo Pezzotti, um dos filhos. “Acabou se formando em direito e filosofia pela USP. Anos depois, para engrossar a renda familiar, deu aulas particulares de latim”, comenta Mara, filha caçula.
Na década de 1970, assumiu a Regional de Pinheiros na qual teve uma administração bastante participativa, embora tenha se decepcionado com a política e nunca mais se envolvido diretamente com ela. “Eu era criança e saía com ele pelas ruas distribuindo talonários de reclamações entre moradores e em instituições como Rotary e Lions”, recorda Ivo. O advogado gostava de conversar com “figuras do bairro” e colher histórias na rua, fosse de anônimos ou pessoas ilustres. Era muito comunicativo.
Teve alguns contos e poemas publicados na Gazeta de Pinheiros, mas a família pressionou para que escrevesse um livro sobre a história da Vila Madalena e seus moradores. O fez em 1998. Foi um sucesso e orgulho para todos que vivenciaram o progresso do bairro. “Ele via o crescimento de forma positiva, mas lamentava pela desordem como acontecia, pela falta de uma associação de moradores que fosse realmente unida e pela falta de um espírito de conservação dos moradores”, diz Mara.
Suas últimas atividades foram como diretor jurídico do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC) e assessor de Rodolfo Konder na Secretária de Cultura. Nos últimos dois anos de vida, já acometido pelo câncer, escreveu 15 contos. “A idéia era publicar um segundo livro, mas ficou inacabado”, comenta Mara, ressaltando que o pai, mesmo diante da doença, idas e vindas a hospitais, não perdia o bom humor. “Ele nunca reclamava. Acreditava que a idéia de doença podia matar antes que ela própria e que enquanto houvesse vida, era preciso sorrir”, lembra as palavras ditas por Antônio Ivo no último Dia dos Pais. Este espírito alegre contagiou gente de todas as gerações. Mantinha amigos da época do seminário, de quando tinha apenas 14 anos.Fez amigos, inclusive, entre médicos e pacientes do hospital em que esteve.“Ele tinha uma linguagem universal”, define o filho.