Carnaval, sem Carnaval, não vale

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Nunca tive essa sensação diante do reinado de Momo. Era como se, de repente, a Disneylândia tivesse assumido a produção do evento, fazendo um comentário, bem ao seu estilo, de uma manifestação ocorrida num passado distante. Entrava uma escola, e outra… Um trio elétrico, e outro… E nada!
Tenho um histórico não saudosista. Pelo contrário. Acompanho os processos de transformação com o maior interesse, pois é o sinal mais claro de vida na sociedade e vigor cultural de um povo. Porém, o que vi foi o avesso de qualquer linha evolutiva.
Morava no Rio de Janeiro, sobre a proteção do Alex Vianni, quando tivemos a notícia sobre o Sambódromo. Até hoje me lembro bem do rosto irônico do Alex falando para mim e para Betina Vianni desse espaço próprio do samba, que estava sendo articulado no tempo do Médici. Fui contra imediatamente, como mandava o sectarismo dos meus vinte e poucos anos. Brizola compra a idéia do Sambódromo anos mais tarde, mistura com escolas de tempo integral do Darci Ribeiro e viabiliza o projeto. Foi uma intervenção grande no Carnaval, mas o resultado é positivo. Era diferente, mas era Carnaval. Estava tudo lá. Joãozinho Trinta e outros garantiam a irreverência, a sexualidade, a tresloucura toda própria da folia.
Em outro pólo, o Carnaval da Bahia com seus abadás e seus trios, carregava as emoções momescas com os recursos sonoros eletrônicos de muitos decibéis. Mas, igualmente, permanecia tudo lá. Os atabaques e as charangas. As caretas e a ousadia erótica.
Foi tudo muito diferente esse ano. Será um sinal de que definitivamente o Brasil não será mais o Brasil? Ou simplesmente um lapso de memória cultural para abrirmos tanto as pernas aos interesses comerciais do turismo asséptico? Vamos ficar de olho. Esse ano começa claudicante. Carnaval é um termômetro da nossa vontade. Torço para que nas cinzas da Quaresma recuperemos o tesão.

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