A Vila Madalena ganhou um teatro. Graças a mobilização da comunidade, a Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, no bairro, não irá mais fechar e abre as portas do Teatro da Vila, um espaço dedicado a arte da interpretação e à cultura. São 99 lugares à disposição do público e o teatro é apenas um braço do que pretende ser um espaço cultural. A inauguração foi com a peça “Cidadão de Papel”, da Companhia Os Satyros, inspirada em livro homônimo, de 1994, do jornalista Gilberto Dimenstein.
O dramaturgo Sérgio Roveri adaptou com o grupo variações de violências cotidianas descritas por Dimenstein em sua obra. São temas relativos à falta de ética no espaço público. Há quadros como o da madame que pára o carro em fila dupla ao buscar o filho no colégio, o do abuso de autoridade numa batida policial, o da importância do voto consciente, o do aborto na adolescência e o do motorista que fecha os vidros histericamente no semáforo ao menor sinal da aproximação de alguém (para em seguida jogar um toco de cigarro pela mesma janela, sujando a cidade).
Para o diretor Ivam Cabral, as cenas soam como notícias de jornal. O que conduz a peça é o questionamento interno que cada pessoa se faz, ou seja, o que fazer com cada situação.
A Companhia dos Satyros é curadora e programadora do espaço e Cidadão de Papel, que fica em cartaz no Teatro da Vila até 16 de dezembro, circulará por outras escolas ou instituições sociais da região oeste.
Também em cartaz no Teatro da Vila está a peça “Achados e Perdidos”, com o Grupo Artéria Teatral. Liderado pelo autor e diretor teatral Mário Costa o grupo nasceu dentro do Colégio Palmares e a princípio era um grupo de teatro de colégio, montando peças para o colégio. Os ex-alunos cresceram, se formaram no Ensino Médio, mas, não queriam parar de trabalhar com Mário. Formou-se assim o grupo Artéria, cuja primeira montagem se deu em 2005 com uma adaptação de Bicho de Sete Cabeças”, filme de Laís Bodansky baseado na história real de Austregésilo Carrano.
Cumprindo temporada no Teatro do Centro da Terra, Maria Lúcia Candeias, Doutora em Teatro pela USP e professora da Unicamp, quando crítica da Gazeta Mercantil chegou a escrever: “Catorze atores muito dedicados, de modo que com muita energia levam o projeto a bom termo. Um bom início de carreira para jovem elenco”.
Pronto, estava dado o empurrão que o grupo precisava. Daí, seguiu-se em 2006 a montagem de “A mentira” texto inédito de Nelson Rodrigues que mais uma vez foi muito bem recebido por público e crítica. Em 2007 hora de dar outra ‘guinada’. Dessa vez, o grupo atirou-se em um projeto ambicioso, de texto e direção do próprio Mário Costa: “Achados e Perdidos”.
Autor de textos conhecidos como “Guarda um beijo meu” já montado diversas vezes, Mário encara o desafio de ser o dramaturgo diretor muitas vezes escrevendo e criando cenas a partir dos ensaios do grupo.
Desde março os 15 atores, sendo sete vindos de outros grupos e trabalhos diversos, se reúnem pelo menos duas vezes por semana no Praticável do Folias (do grupo Folias D´Arte), no Buffett Veneza (também na região de Santa Cecília), no Centro Cultural Toca do Calango (do grupo teatral Calango) ou, na Escola Caminhando.
Tais encontros vão além de subir no palco e fazer cenas. Todos estão envolvidos em todas as etapas do processo. Um grupo que os atores se dividem em produção e técnica, além da parte cênica. Um grupo jovem (faixa etária de vinte anos). De teatro jovem. Para jovens de todas as idades.
Fonte: www.folhasp.com.br