Uma vida florida

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Meu nome é Wellington Cabola Romano, nasci em São Paulo, em agosto de 1964. Minha história na Vila Madalena começou quando meus avós paternos se casaram e procuraram um lugar plano para alugar pois trabalhavam com flores. Encontraram um sitiozinho na praça Panamericana, que hoje é lugar top, mas naquela época, segundo meu avô, era um grande charco.
Depois acabaram comprando um terreno na rua dos Macunis, onde foi minha primeira casa. Ali, na antiga Estrada da Boiada que depois virou o caminho dos bondes, o terreno onde morávamos era como se fosse uma vila. Tinha três casas, uma do meu pai e as outras duas dos meus tios, e uma floricultura na frente, que era dos meus avós – e está lá até hoje. A família sempre trabalhou com flores. Minha avó foi, inclusive, pioneira naquelas bancas ao lado do Cemitério do Araçá. Era uma mulher muito arrojada, foi a primeira brasileira a tirar carteira profissional de motorista, a primeira mulher a guiar caminhão em São Paulo… Acabou até virando nome de rua: Maria José Monteiro Romano. A gente até brincava que o homem da casa era minha avó!
Boa parte da minha infância foi ali, nesse quintal comum. Éramos cinco crianças, entre primos e irmãos. Com doze anos, fomos para perto da minha avó materna, na Vila Beatriz. Foram dois quarteirões de mudança para a Baeta Neves, ruazinha ao lado da Isabel de Castela. Ali tinha muita criança, todos mais ou menos da mesma faixa etária. Era uma delícia: futebol na rua todo dia, descalço, aquela coisa de chuta o chão arrebenta o dedão, bicicleta, peão, corda. Íamos para o “morrão”, hoje em dia a Praça do Pôr-do-sol, então um barranco de terra vermelha. Tinha um vento fantástico para empinar pipa. Também fazíamos o “esquibunda”: sentados em pedaços de papelão, a gente escorregava morro abaixo e ia parar lá no meio da rua…

Nem tudo são flores…

Apesar da “vocação” familiar para as flores, meu pai tentou seguir um caminho diferente. Foi violinista da Sinfônica de São Paulo quando garoto; jogou futebol profissionalmente no Corinthians na adolescência; teve loja de acessórios para carros; migrou para o ramo de tinta automotiva, depois para todo tipo de tinta. Teve uma rede de lojas de tintas, mas vendeu pressionado por algum Plano Econômico. Acho que era o Cruzado… Ficou uns três anos relutando em ser florista. Até que, por força da minha mãe, montaram uma floricultura. Por causa daquelas coisas do acaso, a floricultura onde meus pais e irmãos estão até hoje fica exatamente na praça Panamericana, onde meus avós moraram e plantaram. Agora o diferente sou eu. Nunca trabalhei com flores.
Sempre gostei de música: fui estudar publicidade, acabei trabalhando com jingles. Depois montei um bar na esquina da rua Fidalga com a Aspicuelta para tocar violão. Ainda não tinha nada na Vila Madalena. Resolvemos usar o porão da casa e, para isso, contratamos garçons anões. Eram todos anõezinhos de circo. Não à toa, o bar se chamava Monthbawm’s, nome de um duende irlandês.
Acabei cansando de trabalhar dia e noite e, em paralelo, me interessei pela musicoterapia. Fiz faculdade, estudei muito, por algum tempo participei do Grupo de Dor do Hospital das Clínicas. Hoje tenho um espaço onde atendo pacientes usando a integração de algumas técnicas.

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