Depois de muitas noitadas por aí e chegar de madruga em casa para enfim dormir, sempre foi uma batalha difícil, depois de tomar umas e outras e mais algumas. Tirar os sapatos de mansinho, focar bem o corredor, entrar meio de esguio no quarto escuro e muitas vezes esbarrar com tudo na penteadeira, o strike era quase infalível. Porém, passado esse perrengue, o maior problema era como estabilizar o teto. É isso mesmo, o teto. Hora flutuava, hora parecia se mover em ondas, quando o mesmo não girava. Após descobrir que com um rodo, já deitado na cama, com o cabo no centro da testa encostando a outra extremidade no teto, conseguia finalmente estabilizá-lo. Tudo magicamente parava de girar. O sono vinha confortável. Após essa feliz descoberta, como o ovo de Colombo, essa questão foi definitivamente resolvida.
Assim, quando essas noites eram inevitáveis, o rodo foi minha salvação e o responsável pelas noites bem dormidas. Por outro lado, eu e o rodo, acompanhados por uma mala, fomos despachados certas vezes, em algumas calçadas ainda durante a calada da noite, talvez porque nem sempre o sono era tranquilo e qualquer movimento brusco o rodo caía com tudo na cabeça da companheira. Por essas e outras quase sempre as relações iam por água abaixo.
Esta noite, antes de dormir, lembrei-me do tal rodo e de minha avó Angelina. Já sem ambos há muito tempo. Deixei a lembrança levar cochilando a infância debruçada naqueles seios grandes da nonna. Dormi ouvindo seu coração de novo. E a voz italianada de minha vó dizendo à minha mãe o que vivia repetindo: “Figlia, acho que este menino fuma bolinha ou toma maconha, ou é ftzza mesmo”.
Talvez inconscientemente, querendo inocentar o rodo como causador das minhas separações, julgava minhas más companhias pelos transtornos. Fazia então minha autocrítica excluindo sempre eu e o rodo. Dessa maneira sempre fui mudando de turma. O curioso que a história sempre se repetia mesmo depois de largar mão do rodo.
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