Jogadores urbanos

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Sábado na Wisard, numa mesinha na calçada do Pira Grill dois pares de havaianas já gastas pelo uso relaxam quatro pernas, ora cruzadas, ora não. Pernas andarilhas que sustentam dois grandes amigos, que juntas muito já caminharam por esse mundão afora. Sobre a mesa dois copos, um maço de cigarros e uma caixinha de fósforos meio sambada. Pedro pergunta ao Juarez, quantos palitos têm na caixa? Treze, responde Juarez, – Valendo cinco paus! Dezesseis, digo eu. – Valendo! Nem um, nem outro, confere o garçom feito um cúmplice imparcial diante de dois a toas.

Inventamos ali de apostar na dezena final das placas de carro que passariam por nós. Sem bagunça. A coisa tem regras. Criadas na hora, mas tinha. Carro de polícia não vale nem moto e táxi também não. Grana na mão do garçom. Um gritava: – Valendo!

Nos intervalos de apostas, o Jura batucava na caixinha de fósforo. Desta vez era o samba de Billy Blanco que cantávamos desafinados… Não fala com pobre/Não dá mão a preto/ não carrega embrulho/ pra que tanta pose, doutor/ pra que esse orgulho… Papo vem, papo vai. Caminha lento uma fina senhora em nossa direção, puxada por dois cachorrinhos branquinhos igualmente perfumados e com lacinhos vermelhos no pescoço, também iguais a de sua dona de olhar desprezível. Os cãezinhos pentelhos cheiram nossos dedões, depois com as patinhas coçam cada um suas orelhas. Sem olhar para a dona, Juarez me diz: – É pulga! Eu digo:- É sarna! Indignada a dona dos lindos cãezinhos começa em vão a esbravejar pelos tais insultos. Sem darmos o mínimo de atenção a ela, fechamos a aposta. Enquanto dizia algo sobre sema nalmente levar os bichinhos tanto em cabeleireiros como em veterinários conceituadíssimos e tal. Dobramos a aposta. Cada um repetindo seu palpite de pulga ou sarna.

Novamente chamamos nosso amigo garçom, o Enéas, que outrora foi motorista da Carrocinha da prefeitura, porém não chega a tempo. A indignada dona, agora puxava seus cachorros, que junto com ela grulhavam os dentes pra gente se afastando, enquanto aquele trio parecia nos sussurrar palavras de desprezos e de tão baixo calão. Logo pensei, quantos dentes teria cada cão daquele? Jura olhou pra mim e disse: – Não vale consultar o Google antes.

pedrocosta.pira@uol.com.br

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