Na virada do século 20, cerca de 1 milhão de italianos fugiam de uma enorme crise da Itália, a maioria chegava para tentar a sorte nas fazendas do interior paulista. Outros, mais urbanos, iam trabalhar nas fábricas. Essa grande maioria era anarquista, misturados entre os trabalhadores de fábricas, cuja industrialização era a novidade por aqui. Esses anarquistas italianos queriam desde o começo contagiar o operariado com ideias revolucionárias. Naquele início de século vários militantes atuavam em bairros operários, como o Brás, a Mooca e o Belém, que muitas vezes alcançavam 16 horas seguidas de trabalho por dia, que juntos deviam lutar contra a opressão de trabalhar para um patrão, obedecer a um governante, ou confessar-se a um padre. O Estado era o inimigo. Também se indispuseram com os comunistas por não aceitarem Estado algum, nem controlado por trabalhadores, pois reproduziriam a mesma opressão.
Entre eles, se destacavam o Oreste Ristori e Gigi Damiani, fundaram o jornal La Battaglia percorrendo todas as portas de fábricas. Influenciados pelos italianos, os brasileiros também produziam periódicos anarquistas. Circulam pelas ruas o jornal Terra Livre. O editorial do primeiro número dizia: Tomamos o nome de anarquistas libertários porque somos inimigos do Estado. Somos anarquistas porque queremos uma sociedade sem governos.
Por aqui, na fazenda do Córrego do Rio Verde, à margem da cidade, depois chamada de Vila Madalena começaram os operários anarquistas, artesões natos, construírem o cemitério São Paulo com jazigos de mármores de Carrara, anjos de bronze, bustos eternizados em cobre, latão e prata. Aos poucos foram, antes dos imigrantes portugueses chegarem, habitando e batizando as ruas de barro e nos deixaram esse legado poético com nomes que não homenageavam pomposos políticos, nem bandidos bandeirantes; Harmonia, Laboriosa, Girassol, Aspicuelta, Purpurina e por aí adentro.
Interferências, atos públicos, ações diretas, imprensa alternativa, A Tijolada, Versus, Opinião, Movimento, Auto-Gestão, Em Tempo, Pasquim, Lira Paulistana… Salve Madalena! Como um jorrar de cachoeira, a Vila segue seu curso com a mesma teimosia e paixão das gerações de jovens que por aqui passam, uns ficam, outros jamais a esquecem.
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