O muralista dos imensos painéis multicoloridos, Eduardo Kobra, organiza mostra itinerante.
A exposição Galeria Circular é o nome da mostra de parte dos trabalhos do paulistano do Campo Limpo que começou com pixações com o uso de spray. Do pixo, Kobra passou aos grafites e murais de cenas antigas de São Paulo e painéis onde critica a violência do homem contra animais e a natureza.
A mostra itinenrante foi instalada dentro de um ônibus e aconteceu entre os dias 27 de agosto e 8 de setembro. O ônibus foi adaptado para virar uma galeria. Seus assentos foram retirados e recebeu parte das obras do artista. Uma tela projetava um vídeo de poucos minutos com a trajetória do artista de Campo Limpo, agora um artista mundial.
Kobra definiu o trajeto do ônibus. Ele fez questão de que o ônibus fosse para lugares onde os moradores têm pouco acesso a arte ou exposições como esta, foi uma novidade.
Das 13 paradas, duas não ficavam na periferia. “Entre os 13 pontos a Vila Madalena e a Avenida Paulista foram os únicos pontos que estão fora da periferia. A escolha pela Vila se dá pelo fato de que o meu estúdio fica aqui. E por toda a influência que a Vila Madalena exerce em São Paulo e no mundo da street-art”, justifica Kobra sobre o itinerário do ônibus.
Quem visitou a Galeria Circular encontrou uma pequena parte dos trabalhos realizados por Kobra aqui no Brasil e no exterior. Mas também pôde apreciar projetos que serão ainda executados. Os jovens ficam maravilhados pelas figuras e o colorido que o artista impregna em suas obras.
Na visita do ônibus à Vila Madalena, em um domingo frio e chuvoso, Kobra comentou: “Na Vila Madalena aconteceu um dos momentos mais especiais da exposição. Apesar da chuva forte, teve fila de pessoas interessadas e muita gente prestigiou e visitou o ônibus. Foi um momento muito especial”. Em outras paradas, as filas foram maiores e com um grande público formado por crianças.
A trajetória artística do Kobra, que no início da carreira assinava Cobra, foi influenciado pelo movimento hip-hop. Em 1995, inspirado em outros muralistas como o mexicano Diego Rivera passou a produzir murais de grandes dimensões pela cidade graças ao talento e habilidade como desenhista e pintor realista. Os detalhes em seus trabalhos chamam atenção. Segundo alguns críticos a característica mais marcante de Kobra é o domínio do desenho e das cores. Ele levou para os painéis muito do que viveu e vive.
As cenas de São Paulo antiga foram resgatadas de fotos e livros antigos que Kobra coleciona e chama de “Muro das Memórias”. Existem vários painéis pelos bairros de São Paulo, um deles, junto a Igreja do Calvário. O maior deles, foi feito na Avenida 23 de Maio mas foi coberto de cinza pela prefeitura, no início do mandato do prefeito João Doria. Kobra e quem faz arte de rua sabe que as obras são efêmeras e podem desaparecer.
O projeto Green Pincel é a forma que ele encontrou para denunciar as agressões contra os animais e o meio ambiente. Um deles, contra as touradas, pode ser visto na Rua Belmiro Braga.
Para fazer tantos trabalhos e de dimensões gigantescas, Kobra tem uma equipe de 14 auxiliares. Alguns deles o acompanham em suas viagens internacionais.
A técnica da pintura em 3D é outra especialidade de Kobra. Enquanto artistas faziam as pinturas 3D em quadros, o artista faz seu trabalho no chão. Só é possível ver o trabalho e sentir a profundidade de um certo ponto de vista. Ele já fez esses trabalhos na Praça do Patriarca e na Avenida Paulista, em São Paulo.
Kobra também é um expert em painéis de grandes dimensões. Para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro ele pintou o mural Etnias – Todos Somos Um que durante algum tempo o maior painel do mundo e levou 70 dias para ser concluído. Mas ele mesmo se superou ao conceber e concluir um painel maior ainda na fachada de uma fábrica de chocolate às margens da Rodovia Castello Branco.
Várias as personalidades que Kobra homenageia em seus imensos painéis. Entre os brasileiros, distribuídos por várias cidades brasileiras estão Oscar Niemeyer (Av. Paulista), Nelson Mandela, Luiz Gonzaga, Chico Buarque e Ariano Suassuna (na Av. Pedroso de Morais), Ayrton Senna (Av. Consolação com Rebouças). São obras que deixam as cidades mais alegres e viram pontos de referência para as inevitáveis selfies. Belém, São Luis, Brasília, Rio de Janeiro são algumas das cidades brasileiras que têm um painel do Kobra.
No exterior, a lista também é enorme. Nos Estados Unidos ele já fez 18 painéis em Nova York. Por lá foi eleito neste ano, pela Time Out, como uma das personalidades do ano. O painel homenageando Michael Jackson é um dos mais visitados. Até existe um city tour na cidade para visitar as obras de Kobra. Outros famosos que Kobra retratou: Albert Einstein, em West Palm Beach, Bob Dylan em Minneapolis. Na Europa, Anne Frank em Amsterdam, Salvador Dalí em Múrcia, na Espanha; Alfred Nobel em Boas, na Suécia, Malala em Roma, Arthur Rubinstein, em Lodz, na Polônia e outros mais. Cada painel rende 100 mil doláres ao artista.
Terminada a comemoração pelos 30 anos de trabalhos e 44 anos de vida, Kobra vai continuar a fazer seus painéis pelo mundo. E espera em breve dar vida ao instituto que idealiza para que crianças e adolescentes recebam gratuitamente formação em artes visuais. Só não sabe dizer se será na periferia ou no centro da cidade. (Gerson Azevedo)
www.eduardokobra.com