Pedro Costa: Os filmes diante da tela

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A Vila Madalena era só futebol com três grandes times e muito quebra-pau. O mais intelectualizado da roda de garotos, o Toninho, nos convence a sairmos um pouco da Vila para ver na tela a nossa musa do momento, Brigitte Bardot. Lá fomos nós. Toninho, seu irmão Edu, Haroldo, Jura, eu e o Gê Tetinha, assistir o filme que acabava de chegar ao Belas Artes. Era só pegar o buzão, subir a Teodoro entrar na Doutor Arnaldo e já descia na esquina do planalto da Paulista com Consolação.

Os filmes demoravam muito para chegarem por aqui, enquanto o resto do mundo já havia assistido. Assim, no final dos anos 60, estreia ‘E Deus criou a mulher’, de Roger Vadim e no papel principal a bela Brigitte Bardot, interpretando Juliete Hardy. O cine Belas Artes por sua vez ocupava o lugar do antigo cine Trianon, ao lado do também extinto cine Ritz da Consolação. Tudo ali era novo, inclusive a gente, a maioria com a caderneta escolar rasurada para poder assistir o filme proibido para menores, o Gê até passou um carvão da lata de amendoim na pelugem do bigodinho, enquanto o Jura despistava o olhar do vendedor. Entramos. Luzes laterais se apagam. O lanterninha ilumina nossos acentos, enquanto a turma de trás grita ‘senta caceta’. Badala o sino, abrem-se as cortinas e começa a sessão. 

Lá pelas tantas do filme, Brigitte sobe uma escada lentamente, aquela sensualidade toda subindo aos poucos os degraus com uma toalha enrolada, a plateia intacta, muda… Quando nosso amigo Edu grita: ‘Brigitte, olha eu aqui!’ Ela deixa cair à toalha, para e olha pra trás piscando o olhinho sobre os ombros… O desgraçado assistia ao filme pela terceira vez.

Em outra empreitada cinematográfica, esses mesmos garotos vidrados nas revistinhas de Carlos Zéfiro vão assistir desta vez a um filme erótico da grande musa argentina da época, Isabel Sarli, Una mariposa em la noche. Segundo o Edu, sempre ele, a atriz tinha um dos maiores e perfeitos seios. Desta vez o fizemos jurar que não havia assistido nenhuma vez. No meio do filme, exótico, porém bem pudico, na hora que a câmera foca e se aproxima nos seios de Isabel, um abajur surge na frente dela, quando olhamos para o Edu, ele ia deitando a cabeça para o lado tentando ver… Ninguém entendeu nossa gargalhada, parou a projeção, acenderam as luzes. O foco agora era ele, Eduardo Sandrin Sertori, interpretando Edu.

pedrocosta@uol.com.br

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