O samba paulista pede passagem

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Foto: Divulgação/Thalita Oshiro

Divulgação/Thalita Oshiro
O samba paulista faz parte da história do Kolombolo

Gênero musical, o samba é o ritmo que caracteriza o Brasil e que acaba de completar um século, tem raízes em São Paulo.

O samba oficialmente completou 100 anos no dia 27 de novembro de 2016, com o registro da primeira música do ritmo gravada no Brasil “Pelo Telefone”, de Donga (Ernesto Joaquim Maria dos Santos), no Rio de Janeiro. “Desde 1914, São Paulo tinha samba”, afirma Renato Dias, um dos fundadores do Kolombolo diá Piratininga, OCIP (Organização Social de Interesse Público) criada em 15 de maio de 2002 e voltada para o samba paulista – história, ritmos, personagens e que também organiza um cordão carnavalesco que desfila pela Vila arrastando uma multidão de foliões.

Conta o músico que “em 1914, o Grupo Barra Funda, fundado pelos irmãos Dionísio e Luiz Barbosa e Cornélio Alves (cunhado de Dionísio), desfilava pelas ruas do bairro com cordões carnavalescos e se tornou referência do samba paulista. Foram perseguidos pela polícia porque o ritmo não era bem aceito pela sociedade, que preferia ritmos vindos de fora”. Mesmo perseguidos, os cordões carnavalescos se apresentavam no carnaval e em festas na capital e em cidades do interior paulista, onde o samba era apreciado por grupos de descendentes de escravos, em sua maioria.

O Grupo Barra Funda em 1953, mudou o nome para Camisa Verde Branco e depois virou escola de samba. “Além do Camisa, outros cordões carnavalescos existiam e muitos estão entre nós: a Lavapés, a Nenê da Vila Matilde, Peruche, Vai-Vai, entre outras”, resume Renato.

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Renato, Lígia e Max, fundadores (Foto/Gerson Azevedo)

“Por influência do rádio e por ser o Rio de Janeiro a capital do país, o samba carioca teve mais divulgação do que outros centros como São Paulo, Bahia e Pernambuco”, lembra Renato. Mas graças a um carioca, o prefeito José Vicente Faria Lima, os cordões carnavalescos paulistas deixaram de ser perseguidos. O prefeito que governou a cidade de 1965 a 1969, liberou os cordões carnavalescos, “mas exigiu que aqui se adotasse a estrutura do carnaval do Rio. Cansados da perseguição, os paulistas aceitaram a exigência apesar da diferença entre o samba feito aqui e no Rio”, lembra Renato.

“A diferença entre as duas cidades é que o samba paulista é mais dolente, de banzo, derivado do samba-de-bumbo, enquanto que o carioca é mais festivo”, diz Renato, definindo as características de cada um.

Os cordões carnavalescos têm uma estrutura diferente das escolas de samba. Cordões não têm mestre-sala e porta-bandeira, mas sim baliza, rainha e rei, além da corte formada por princesas. As alas são formadas por marinheiros, cabrochas, rumbeiras (as baianas das escolas de samba). E todo ano tem um novo um samba-tema (ou samba-enredo) criado pelos compositores do cordão.

Divulgação/Thalita Oshiro
Os estandartes do Kolombolo (Foto/Gerson Azevedo)

Para falar do samba paulista, é preciso prestar homenagens a nomes importantes, muitos desconhecidos mesmo por sambistas. Renato cita, entre outros, “Toniquinho Batuqueiro, Carlão do Peruche, Tio Mário, Henricão, João Borba, Geraldo Filme e Germano Matias. Mais recentemente, Adoniram Barbosa, Izaurinha Garcia, Paulo Vanzolim, Oswaldinho da Cuíca nomes importantes do samba de São Paulo. O Kolombolo, entre suas atividades, promove encontros, estudos e gravações de CDs com esses nomes do samba e do carnaval paulista.”

O futebol de várzea e os engraxates contribuíram com o samba paulista, explica Renato. “Os engraxates se reuniam depois do expediente na Praça da Sé, do Largo do Arouche, da estação da Barra Funda e outros lugares para batucar com suas caixas de engraxates. Germano Matias foi um deles.” Por sua vez era no futebol de várzea que grupos se reuniam para jogar e sambar.

A chegada do Kolombolo na Vila aconteceu meio que por acaso. Renato, Max Frauendorf e Lígia Fernandes, fundadores do grupo. Eles procuravam uma sede e o Guga Stroeter (do Centro Cultural Rio Verde) também. Unidos acharam o sobrado na Belmiro Braga. A escolha do bairro “pela atenção que a Vila tem na cidade e ajudou na divulgação do trabalho do Kolombolo”, diz Max.

Os fundadores do grupo não pretendem se transformar em escola de samba. “Seria uma contradição” ressalta Renato. “Nada contra às escolas de samba, mas vamos continuar a curtir todos os preparativos dos nossos desfiles quando saímos com nossa bateria e arrastamos um mar de gente atrás!” Max e Renato destacam que o desfile deste ano de 2017 foi melhor organizado pela prefeitura e CET. “O Kolombolo desfilou tranquilo e pudemos aproveitar melhor a festa.”

O Kolombolo promove na semana várias atividades, sempre às 20 horas. Segunda, Cafezal Paulista; terça, Mestres da Pauliceia; quarta, estudos sobre o samba paulista; na última quinta do mês, Dialeto Paulista; sexta, Ala dos Compositores e no último domingo do mês, a Praça do Samba, que acontece na Praça Belmiro Braga (ou do Aprendiz) caso chova, o evento é transferido para a sede do grupo.

O nome Kolombolo diá Piratininga é uma mistura da língua bantu (Kolombolo diá/Galo de) e do tupi Piratininga (nome original de São Paulo), que traduzido livremente significa o Galo de Piratininga.

Kolombolo diá Piratininga. Rua Belmiro Braga, 164, Vila Madalena, www.facebook.com/kolombolo

 

 

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