O longa de animação O Menino e o Mundo, dirigido por Alê Abreu, foi indicado ao Oscar de animação. É a primeira vez que uma animação latino-americana concorre.
Desde a adolescência que Alê Abreu curte desenho. Após o curso no Museu da Imagem e do Som (MIS), ele fez o primeiro filme: Memória de Elefante (1984). Produziu o longa Garoto Cósmico (2009) e os curtas Sírius (1993) e Espantalho (1998). Estudou publicidade e fez muitos trabalhos para revistas, jornais e livros.
Na TV criou e dirigiu o piloto da série Vivi Viravento para a TV Cultura. Como autor de livros, publicou, em 2010, em parceria com Priscilla Kellen, o infantil Mas Será que Nasceria Macieira?
Em 2013 lançou o longa O Menino e o Mundo, que desde o seu lançamento ganhou 45 prêmios em 23 países, com destaque para o de Menção Especial do Júri no Ottawa Internacional Animation Festival (Canadá), melhor filme brasileiro da 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e dois prêmios no Festival de Annecy (França), como melhor longa e prêmio do público.
Segundo Alê, “o diferencial do filme é a mensagem universal que ele transmite. Vai além da história de um menino que sai pelo mundo à procura de seu pai. Atinge os jovens e também o público adulto”, diz o diretor de 44 anos. O filme utiliza várias técnicas de animação, desenho, colagem.
O filme levou três anos para ser realizado e custou R$ 2 milhões. “Conseguimos patrocínios através das leis de incentivo e isso me deu liberdade para fazer o filme com independência”, diz ele que é sócio da Filme de Papel, produtora que fica na Vila Madalena, onde Alê mora desde 2001.
Para o diretor, a indicação para o Oscar foi uma surpresa: “Até a véspera do anúncio, era pouco provável. Segundo a nossa distribuidora nos Estados Unidos, a chance era de 5%”, mas talvez, segundo ele, “tenha sido por conta do banho de lavanda que eu tomei no final do ano. Mandinga!”
Os adversários do O Menino e o Mundo no Oscar são pesos pesados como os norte-americanos Divertida Mente, produzido pela Pixar, e Anomalisa; Shau: o Carneiro, produção franco-britânica e o japonês Quando Marnie estava lá. “Agora é a guerra de David (O Menino…) feito com R$ 2 milhões contra Golias (Divertida Mente) com orçamento de 200 milhões de dólares!”, desafia.
A missão não será fácil. Alê viajou para Los Angeles na semana do carnaval e terá uma programação intensa. “Nos Estados Unidos, o pessoal da GKids, o maior distribuidor de filmes independentes, está nos ajudando. Eles me mandaram uma lista do que eu tenho que fazer, com quem tenho de falar”, explica. O filme ficou em cartaz nos EUA em 90 salas por sete meses. “Agora vamos até lá para fazer o máximo para que o meu filme seja visto pelo maior número de eleitores [do Oscar]”.
Aqui no Brasil, o filme teve cerca de 50 mil espectadores, segundo Alê. Para o diretor, “a distribuição é o problema para o produto nacional”. Mas com a indicação, o filme voltou a ser exibido nas salas do Espaço Itaú de Cinema (Augusta e Frei Caneca).
Com essa indicação, Alê Abreu sabe que seu trabalho e a animação brasileira vão ter mais visibilidade. “Os filmes de animação têm mudado e talvez pelo acesso dos meios de produção e técnico. Aumentou o número de produtoras independentes. Talvez no futuro os filmes tenham uma miscelânea de técnicas. O Menino encanta pela mistura das técnicas de animação, a linguagem e o desenho do roteiro”.
Participamos de vários festivais pelo mundo. A animação brasileira Uma História de Amor e Fúria, do Luiz Bolognesi, havia ganho no ano anterior em Annecy. Tudo isso joga um holofote em nosso trabalho que é feito por muita gente, muitos animadores.
“A animação brasileira é feita com muito trabalho. E tem uma geração chegando. Ao contrário de países como Coreia e Índia, que fornecem mão de obra mais barata, mas não fazem o filme deles. Sempre acreditei em fazer os meus filmes aqui no Brasil”, diz ele, que tem recebido, depois do sucesso, muitas mensagens de animadores que o consideram um referencial na animação brasileira. “É um desafio fazer animação no Brasil. Precisamos encontrar nosso caminho, como fazem os franceses e os norte-americanos. Eu considero ter dado um pequeno passo nessa direção”, acredita.
Ele esperava que o longa Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, deveria ter sido selecionado para representar o Brasil na categoria de filme estrangeiro no Oscar 2016. “Eu torcia pelo filme, mas infelizmente ficou de fora”. Por ser o único representante brasileiro na disputa, o diretor diz não se sentir pressionado. “O Menino fez até agora uma bonita carreira e ganhou 44 prêmios pelo mundo. Teve boas críticas e representou bem o Brasil e a América Latina.”
Depois do Oscar, Alê Abreu pretende se dedicar integralmente ao próximo projeto, o longa de animação Viajantes do Bosque Encantado. É um filme sobre duas crianças-bicho perdidas na selva, onde coisas estranhas acontecem. Embora sejam inimigas, elas precisam se unir para vencer seres perigosos, alienígenas e gigantes. “É um pouco de palestinos e judeus, talvez”, contemporiza.
Há uma campanha de crowdfunding no Catarse – www.catarse.me – para arrecadar R$ 100 mil até 28 de fevereiro para ajudar no custo da divulgação do filme nos Estados Unidos (a partir de R$ 24).
Perguntado sobre os lugares preferidos da Vila Madalena, diz: “Sou frequentador antigo do Bar das Empanadas; a Villa Grano é quase continuação 24 horas da minha cozinha e o happy hour, quando tem, é no Genial; e adoro comida árabe, especialmente a do Saj!” Então, em 28 de fevereiro, vamos torcer para que a famosa frase “O Oscar vai para…” seja para O Menino e o Mundo!
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