São vários os murais coloridos de Eduardo Kobra na Vila Madalena e na cidade. Agora, ele leva seu spray e sua arte para outras cidades do mundo.
O maior de todos, com mil m2, reproduz com detalhes, cena da década de 1920 da cidade e ocupa uma das laterais da movimentada Avenida 23 de Maio. Outro, “Viver, Reviver e Ousar” é uma releitura ao Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret, em sua fase colorida, é visto por todos que passam no cruzamento das ruas Cardeal Arcoverde e Henrique Schaumann. O mais recente tem como figuras Chico Buarque e Ariano Suassuna na fachada da livraria Fnac, na Avenida Pedroso de Morais. E a lista é longa.
Eduardo Kobra está fazendo arte de rua desde 1987. Autodidata e estudioso, também domina a técnica anamórfica. A pintura vista de um ângulo preciso dá a sensação de profundidade e realidade. “Comecei fazendo pixo em prédios, por influência do hip hop. E muitas vezes acabei preso pela polícia”, conta ele.Com vários murais pela cidade, e principalmente pela Vila Madalena, Kobra, desde 2012, escolheu o bairro para montar seu estúdio. “Aqui planejo meus trabalhos e fica mais fácil para se deslocar pela cidade”, justifica ele. No dia da entrevista, uma intensa chuva levou água para dentro de seu estúdio. “Sempre que chove forte, todo mundo fica preocupado por aqui”, comenta ao checar se a água não afetou o equipamento que usa em seus trabalhos pela cidade.
O pixo era para externar a rebeldia de então. A fase seguinte foi o grafitti pelas paredes da cidade. “Eu saía do Campo Limpo, onde nasci e vivi, e vinha ao centro com os colegas fazer o pixo e depois os graffitis”. Profissionalmente, começou a ganhar dinheiro quando fez a pintura dos brinquedos do extinto parque Playcenter. E desde então, vive de seu trabalho e, ultimamente, ganhou maior valorização, principalmente quando começou a receber convites para fazer painéis fora do país.
Tem trabalhos feitos em parceria com o artista plástico Romero Brito e Jay Mulder. Desde 2011, recebe convites para fazer trabalhos em cidades da Europa e América do Norte, como Atenas, Paris, Roma, Londres, Moscou, Nova York, Miami, São Francisco. Outras cidades do mundo já contam com painéis gigantescos feitos por Kobra e sua equipe – Agnaldo Brito, Marcos Rafael e César Almeida – que o acompanham há tempos.
Os imensos painéis, com inúmeros detalhes, são característicos dessa fase de Kobra: misturam figuras geométricas e coloridas sobrepostas nas cenas e personagens homenageados. O arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para ocupar a lateral de um edifício no início da Avenida Paulista, por exemplo. Mandela, Alfred Nobel, a jovem Malala, Madre Teresa de Calcutá, John Lennon, Dalai Lama, Bob Marley e outros são algumas das personalidades que Kobra homenageou.
Além de alegrar a cidade, o artista também usa seus murais para tecer críticas, como “As Touradas”, que está na Vila Madalena, e contra a caça às baleias, no bairro da Pompeia. Ele chama esses painéis de Greenpincel.
Um dos painéis mais comentados é o mural “O beijo está no ar”, baseado em uma famosa foto de Alfred Eisenstaedt, feita em agosto de 1945, no dia da redenção do Japão, que deu fim à 2ª Guerra Mundial, na qual um marinheiro beijava uma enfermeira. Feito por Kobra em 2012, pode ser visto no bairro de Chelsea, no 255 da 10th Avenue, próximo ao High Line, um dos pontos turísticos mais visitados de Nova York. “Fiz o mural para sensibilizar as pessoas que, mesmo com a correria, o amor está no ar!”, diz Kobra.
No final de 2014, Kobra lançou sua primeira serigrafia. A obra escolhida, “O beijo”, tem tiragem limitada de cem cópias, numeradas de 1 a 100, e são vendidas exclusivamente no site do artista – eduardokobra.com/loja. Tem o formato de 50 x 70 cm, em papel italiano Super White 340 g. “O mural se tornou famoso em todo o mundo e virou ponto turístico de Nova York. É fotografado diariamente por centenas de pessoas, inclusive casais apaixonados”. Ele considera esse mural e o de “Oscar Niemeyer” os mais importantes da sua trajetória artística.
Em 2015, Kobra, através de associação com o francês Tierry Guetta, artista de rua baseado em Nova York e mais conhecido como Mr. Brainwash, segue em março com seus sprays para uma temporada de seis meses pelos Estados Unidos. Mas promete voltar em breve. “É aqui em São Paulo, na Vila Madalena, onde me reciclo e é a minha base”.
www.eduardokobra.com