Num país de estrelas em dias de inverno começava a Copa do Mundo. Estrelas nos ombros dos generais que nos governavam, estrelas que cantavam em festivais, estrelas nos gramados e as estrelas daquela última noite antes da Copa do Mundo. Na janela aberta do quarto antigo via, através do vidro, o céu que se despedia do outono de 1970.
Na cabeceira da cama, sobre minha cabeça de menino, estavam coladas, em meio círculo, as figurinhas do maior ataque de todos os tempos contra os craques do mundo. Todos juntos ali ao redor de mim, feito pérolas, formavam a parte substancial da minha auréola de coroinha, que adornava a cabeça de um moleque sonhador de pecados saborosos e sacanas, graças às primas do Cambuci que nos visitavam aos domingos e aos garotos do Bexiga que chamávamos amigavelmente de cunhados.
Só tinha camisa 10 de cada um dos times dos meus amigos das peladas da rua. Pelé 10 dos Santos, Rivelino 10 do Corinthians, Tostão 10 do Cruzeiro, Gerson 10 do São Paulo, sem falar do Jairzinho, Clodoaldo, Piazza, Baldocchi, adversários diários, ídolos opostos de cada menino do bairro, desta vez, todos juntos num só time de futebol. O general Médici queria o Dadá Maravilha no time. Saldanha declara: “O general escala o ministério dele e eu escalo meu time”. Foi substituído por Zagallo pouco antes da seleção seguir para o México.
“Noventa milhões em ação, pra frente, Brasil, salve a seleção” é o hino da união com a política. A taça Jules Rimet vira caneco e da mesma taça ambos bebem. É erguida pelo Capitão Carlos Alberto, em seguida pelo presidente Médici; assim foi roubada e derretida mais tarde, junto com as estrelas da minha antiga janela.
Valeu ter na lembrança a melhor Copa que assisti. Como valeram as demais. A gente se privar de curtir essa experiência, ver os craques do mundo todo jogarem nos nossos gramados, seja em estádios, nas praças, nos bares, com certeza não fará um Brasil melhor, só deixará nossa vida mais chata. Vamos brilhar nos campos. As nossas insatisfações vamos deixar para demonstrar nas eleições.
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