Sabadão combinado. Todos dispostos e a postos. No bar Calçadão da Vila, onde cabe todo mundo lá fora e ninguém lá dentro, tomávamos cervejas enquanto fazíamos no guardanapo a lista dos assados e dos convocados. As brejas desciam e os nomes aumentavam. Jura leva o carvão, Nelsão as asinhas e linguiças de frango, Chaguri leva sempre o mais barato, o pãozinho; Zé Eduardo, o violão, e o que vos escreve a cachaça; o Ge entra com a casa; o Isaías passa seu inseparável chapéu de pano para arrecadar mais algumas cervejas. Tá feito o churrasco. Papo vem, papo vai e o sinal de fumaça começa a se espalhar como neblina.
Entre cantorias e piadas, a maioria delas já cansada de ser contada novamente, graças à perda de memória recente que acomete essa moçada, que ri como se fosse a primeira vez que ouvisse a piada. Riso-nhos jovens grisalhos! Estes que ainda não são calvos ou as duas coisas juntas acho que riem mais de si mesmos do que daquilo que ouvem. É como se a idade trouxesse a sabedoria do quanto ainda somos crianças, imagino.
Sem que ninguém notasse, o fogo se apaga. Num ímpeto tardio, um abana recuperando a pequena chama enquanto o Ge, sempre estabanado e prestativo, esguicha como bisnaga a garrafa de álcool e… BBRRUMM! pega fogo sua camisa e a sobrancelha. Correria e paralisia. Instintivamente todos jogam a cerveja do copo sobre o Ge. O Isaías, antes, dá o último gole. Para tudo. – “Vamos pras Clínicas”, diz o Juarez.
Sábado prematuramente interrompido. Na segunda-feira, horário de visita, lá vai a trupe visitar o acidentado. O peito todo enrolado em faixas e mais faixas feito uma meia múmia, mesmo assim, com aquele sorriso que não sai da boca do Ge. Eis que o Nelson, com uma cara de dó tremenda estampada no rosto e sem os óculos, avista um “mosquitinho preto” em cima das faixas do peito do amigo e gentilmente dá uma rápida estilingada com o dedo indicador naquele intruso. Daí ouviu-se o maior grito ungido das Clínicas daquela tarde. O “mosquito” nada mais era que o mamilo do Ge fora das faixas, pendurado e queimado feito carvão, que passou voando pela janela do quarto e sem piedade ou destino foi atropelado pelo “rush” da Avenida Dr. Arnaldo. No mesmo instante, todos nós na moldura da pequena janela do hospital. Mudos, assustados e de bocas abertas pensamos o mesmo palavrão.