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Ele chegou ao Brasil em 1954 com 17 anos de idade. Veio da cidade de Guarda, região da Beira Alta, em Portugal, para trabalhar na barbearia com um tio que havia chegado três anos antes. O primeiro rosto que ele barbeou foi de um rapaz que se sentou em uma cadeira de madeira mesmo, porque a de ferro, móvel original que até hoje está encravada no mesmo lugar, era o primo quem trabalhava nela.
Foi nesse período, entre 1910 e 1920, que os portugueses começaram a povoar a Vila Madalena. Muitos deles chegaram para trabalhar nas obras do Cemitério São Paulo nos anos 1920.
Na Igreja do Calvário, Joaquim Gonçalves, o personagem dessa edição, conheceu Maria Benedita, portuguesa da região do Porto. “Minha sogra está lá, ainda, com 95 anos”, revela rindo para a longevidade. Os dois filhos do casamento com Maria Benedita foram registrados no cartório Jardim América, que ficava na Praça Benedito Calixto. O casamento também foi registrado lá. “Casamos em 15 de setembro de 1962”.
“A Teodoro Sampaio e a Cardeal Arcoverde tinham duas mãos. Duas linhas de bonde atendiam a região: A linha 28 fazia a rota Teodoro-Fradique e a linha 29 que ligava a Praça Ramos ao Largo de Pinheiros. Quando o Jânio Quadros entrou na prefeitura em 1953, levou a linha 28 para a Vila Madalena: O bonde subia a Fradique, Aspicuelta, Fidalga, Purpurina e então, descia a Fradique novamente”, relembra com detalhes.
“Era um tempo bom, a gente podia dormir com as portas abertas que não tinha nenhum problema”. Naquele recinto onde o tempo parece que parou, a reportagem pergunta ao Seu Joaquim se ele tem um telefone para a redação fazer contato, a quem ele responde: “Não tenho. Tenho dois aparelhos que estão guardados na gaveta. Também não tenho telefone fixo, vieram instalar a linha, mas eu não quis. Também tenho secador de cabelos mas não uso”.
Na contramão da modernidade, Seu Joaquim nos revela que tem clientes de 50 anos que ainda o visitam sem precisar avisar com antecedência. E jamais houve um desencontro.
