O dom|do artista

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O dom do artista

Gustavo Fraiberg era líder político e sindical na Argentina em 1976 quando aconteceu um golpe de estado. Foram mais de 30 mil mortes, mas ele escapou dela ‘atravessando o rio’. Ele e muitos outros conseguiram chegar ao Brasil e ganhar vida nova. “O Brasil, além de me salvar a vida, me deu uma nova profissão e filhos”, diz Gustavo, que não tinha nenhuma ligação direta com arte.
Desde menino, ele sempre esteve envolvido em artesanato, mas precisou trabalhar cedo e abandonou o dom. Logo que chegou aqui, começou a fazer artesanato, tentando sobreviver. Primeiro foram cinzeiros em cimento, até que, com filho pequeno, partiu para a venda de cursos de leitura dinâmica. Em 1983, uma decoradora lembrou dele e encomendou esculturas de cimento. A partir daí, ele começou a fazer algo mais sofisticado, que engrenou sua carreira até os dias de hoje. Nos primeiros anos, ele fazia esculturas modernas, de criação própria, e reprodução de peças clássicas (romanas, gregas, indianas). Depois ele abriu o leque e fez esculturas aplicadas à decoração (como bases de mesa) ou aplicadas à arquitetura (lareiras, colunas, painéis, fontes).
Há uns quatro anos, ele ampliou mais ainda seu repertório artístico e começou a desenvolver projetos de esculturas públicas junto com projetos sociais, escolas ou comunidades. “Com a Escola Municipal Prof. Olavo Pezzotti, daqui da Vila, fiz esculturas com eucaliptos, com a ajuda da Secretaria Estadual de Cultura. Com o Projeto Aprendiz, fiz dois projetos com grafite. Também já desenvolvi projetos com o Museu da Pessoa”, lembra Gustavo. 
Logo que chegou, ele foi para outro bairro, mas depois de um ano se instalou na Vila Madalena, onde mora e tem loja até hoje (o galpão para trabalho fica numa cidade próxima a São Paulo). “Até os 29 anos me dediquei à política, dos 30 até os 50, foi à arte, e alguns anos atrás resolvi juntar as duas coisas. Me perguntei: ‘como, através da arte, posso ter uma função política na minha realidade?’ Assim nasceu a Casa da Cidade, com um grupo de pessoas daqui do bairro, um lugar para discutir política, cultura”, ele conta.
“No fundo me sinto agraciado pelo destino, porque consegui sobreviver, criar filhos, viajar, fazendo arte, o que não é fácil, principalmente na América Latina. Com a mudança política, os artistas são mais valorizados, há investimento em cultura”, diz ele feliz, rodeado de peças bonitas na loja.

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