Luta contra o preconceito

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Cida: “Hoje vivo quase em paz”

Quando Cida Araújo
resolveu assumir o bar Farol Madalena, na Vila Madalena, há 12 anos,
não imaginava o que encararia pela frente. Voltado ao público GLS, o
bar tornou-se um sucesso em pouco tempo. Mas a região, em específico o
prédio ao lado, não ficou muito feliz. “O bar era todo aberto e começou
a briga. O prédio me jogava processo em cima de processo tentando me
fechar. Eu ia todo dia na subprefeitura brigar porque eles estavam me
perseguindo”, conta ela.
Antes do Farol, Cida trabalhava em uma
gráfica. “Meu círculo de amizades é muito grande. E eu era muito
baladeira. Eu resisti muito, mas uma hora eu não resisti e tive que
pegar o bar”. Lá há vários tipos de música. “Eu tenho um público de 18
a 60 anos. O povo gay é muito festivo”.
A justificativa do prédio
era por causa do barulho excessivo. Cida tentou arrumar formas de
melhorar, fechando a frente do bar, que era aberta na época. Mas não
adiantou. “Foi terrível. A briga toda foi mais por causa do preconceito
mesmo. Foi uma luta muito grande”.
As provocações eram várias. “Eu
era provocada para que saísse uma agressão física para entrar com outra
ação. Eu aguentei tudo o que você pode imaginar. Eu levava banho de
água sanitária, de xixi, de ovos”. Cida chegou a ter cinco viaturas da
polícia paradas em frente ao bar. “Tem pessoas no bar que são gays mas
elas se preservam. Eu tive todo quanto é tipo de pressão”.
Logo ao
abrir, o bar já fez muito sucesso. “Eu tenho bons relacionamentos,
tanto do lado hetero como do lado homo. Prevaleceu o lado gay, porque
eles invadem mesmo. Mas os meus amigos heteros vêm numa boa até hoje”.
A
briga se estendeu por 12 anos e, este ano, a decisão da justiça saiu a
favor de Cida. “Foi uma coisa muito bacana para mim”, comemora. Sua
briga pelo bar chegou a ser tema da coluna de Gilberto Dimenstein, da
Folha de São Paulo. “Depois que saiu no jornal, eles pararam”, ela
conta.
Durante esse tempo, as pessoas do prédio e da região passaram
a respeitar mais o público do bar. “Jamais ninguém vai falar que era
preconceito, porque sabem que eles vão em cana”, diz ela. Mas, mesmo
depois de toda essa confusão, o público continuou fiel ao bar.
Ela
desabafa que, se soubesse que passaria por tudo que passou, não teria
aberto o bar. Felizmente, hoje a calmaria é um pouco maior. “Hoje eu te
garanto que vivo quase em paz”.

Farol Madalena
Rua Jericó, 179, Vila Madalena
Telefones 3032-6470 e 3812-3460

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